Portugal observado por outros países sobre reação aos fogos de 2017
17 de jan. de 2020, 18:38
— Lusa/AO Online
“Internacionalmente
Portugal é visto como uma nação que está a fazer os esforços para mudar
o paradigma e está a ser muito observado pelos outros, nomeadamente
pelos australianos, que estão a dizer como é que vocês [portugueses]
reagiram à catástrofe”, disse à agência Lusa Tiago Oliveira.
O presidente da AGIF falava à Lusa via telefone desde Paris onde
participou na conferência da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre as alterações climáticas e
incêndios florestais na qual falou sobre a experiência de Portugal e
como está a reagir aos fogos de 2017, que provocaram 121 mortes.Tiago
Oliveira afirmou que os australianos, que enfrentam graves incêndios há
vários meses, estão à procura de recomendações internacionais para
melhorar as suas políticas.“O nosso
ensinamento e experiências, boas e más, como reagimos aos incêndios são
para eles [australianos] pistas para que caminhem naquilo que nós
fizemos bem e evitar aquilo que não fizemos tão bem”, frisou, recordando
que os fogos registados há 10 anos na Austrália provocaram 177 mortos,
mas as melhorias introduzidas no sistema evitaram que agora morressem
mais pessoas, apesar da ameaça ter sido ainda maior.Nesse
sentido, sustentou que “é necessário fazer melhorias, nomeadamente no
âmbito da prevenção”, sendo um investimento que “não está resolvido” e
nem vai estar nos próximos anos.No
entanto, considerou que em Portugal já teve início a “verdadeira
mudança”, que ocorreu quando o país passou a reconhecer que a solução
passa pela prevenção e não unicamente pelo combate.Para
o especialista, a mudança de “maior fôlego” vai passar pelo Plano
Nacional de Gestão Integrada dos Fogos Rurais, cuja proposta foi
aprovada em Conselho de Ministros e está em consulta pública até 05 de
fevereiro. O plano, que vai ser coordenado
e monitorizado pela AGIF, tem um investimento previsto de 554 milhões
de euros anuais e um dos objetivos passa pela redução para metade a área
ardida nos fogos rurais até 2030.“Essencialmente
é uma proposta para mudar a paisagem, a forma como gerimos as florestas
e como fazemos o desenvolvimento do território”, disse, sublinhando que
este plano vai “valorizar a floresta, cuidar o território, alterar
comportamentos e gerir os recurso de forma mais eficiente”.Tiago
Oliveira disse ainda que os incêndios devem ser vistos “como uma
consequência do desenvolvimento”, exigindo, por isso, “outros paradigmas
que reconheçam o contexto social e económico, bem como as ameaças
futuras mais agressivas”.“Não vale a pena
insistir em mais do mesmo, é preciso fazer transformações sistémicas
para que as coisas funcionem de forma diferente, nomeadamente gerir e
tratar a vegetação, ou seja, a adaptação às alterações climáticas tem de
ser lida como reduzir o perigo, tratar a vegetação, preparar as
populações e definir sistemas de alerta por antecipação”, precisou,
dando conta que as políticas do desenvolvimento rural, energia,
floresta, desenvolvimento urbano e planeamento do territorial têm de
estar alinhadas.