Portugal mobiliza-se em várias ações nos próximos dias
Violência doméstica
7 de mar. de 2019, 11:17
— Lusa/AO Online
A
medida, determinada pelo Governo, antecede as celebrações do Dia
Internacional da Mulher (08 de março), para o qual estão previstas
manifestações e outras iniciativas em todo o país.Além
das mulheres – que representam a grande maioria das vítimas, são
inúmeras as situações de risco que envolvem filhos menores.O
Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, pediu a
mobilização da sociedade, no combate a um fenómeno que salta a cada dia
para as páginas dos jornais e no qual a intervenção das autoridades e
instituições é muitas vezes tardia.“Portugal
tem acordado com tristes notícias sobre o brutal aumento da violência
doméstica, do qual já resultaram 12 mortes trágicas”, escreveu o
Presidente, a 22 de fevereiro, na página oficial da Presidência, por
ocasião do Dia Europeu das Vítimas de Crime.Hoje,
reúne-se pela primeira vez, com a presença do primeiro-ministro,
António Costa, a equipa técnica que vai apresentar, dentro de três
meses, propostas concretas em matéria de violência doméstica.Mas
para a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa,
Mariana Vieira da Silva, este é também um combate que deve mobilizar
toda a sociedade civil, contra a banalização e a indiferença, perante um
problema que o PR classificou já como “um flagelo”.Entre
as várias iniciativas previstas para o Dia da Mulher está uma greve
feminista convocada pela Rede 8 de Março. O manifesto que apresentou no
mês passado marca uma posição contra as desigualdades, seja no salário
ou no trabalho doméstico.O coletivo feminista integra várias associações, organizações políticas, sindicatos e participações a título individual.Núcleos
grevistas foram constituídos em vários pontos do país, com o desafio de
cumprir uma greve ao trabalho assalariado, e doméstico, à prestação de
cuidados, mas também ao consumo de bens e serviços. Está ainda prevista
uma greve estudantil.De acordo com o
Manifesto 8M, em Portugal as mulheres representam 80% das vítimas de
violência doméstica e 90,7% das vítimas de violência sexual.Para
sábado está prevista uma marcha em Lisboa, sob o lema "Nós Por Elas", e
uma manifestação organizada pelo Movimento Democrático de Mulheres
(MDM).A agência de notícias espanhola Efe
tem seguido de perto os casos ocorridos em Portugal, noticiando na sua
linha situações reportadas pela Lusa e por outros órgãos de comunicação
social.São praticamente diárias as
notícias sobre o tema, das detenções, às sentenças, que voltaram a
colocar no centro da polémica e do debate político um juiz
desembargador: Neto de Moura.Já conhecido
por outras decisões em desfavor das vítimas em casos de agressões
praticadas contra mulheres, decidiu no mês passado retirar a pulseira
eletrónica a um homem condenado pelo crime de violência doméstica,
depois de ter rompido o tímpano à companheira.Num
dos seus polémicos acórdãos, além de interpretações do Código Penal de
1886, o juiz do tribunal da Relação do Porto invocou a Bíblia no
exercício das suas funções e até civilizações que punem o adultério com a
pena de morte para justificar a violência cometida contra uma mulher
por parte do marido e do amante, que foram condenados a pena suspensa na
primeira instância.As associações que
trabalham no apoio às vítimas pedem mais ação da justiça e aplicação da
lei existente. A palavra de ordem é “Basta”.A intervenção das autoridades ocorre já em situações de violência extrema na maioria dos casos conhecidos.No passado dia 25, a GNR da Guarda deteve um homem de 39 anos pelo alegado crime de violência doméstica no concelho de Sabugal.Existiam
suspeitas de agressões físicas e psicológicas à mulher, de 36 anos, e
aos dois filhos menores. Os guardas apreenderam três caçadeiras, duas
armas de ar comprimido, uma pistola de alarme, uma catana, 49 cartuxos
de vários calibres e duas caixas com chumbos para arma de ar comprimido.Presente a tribunal, o detido saiu em liberdade, com Termo de Identidade e Residência.A
Casa Abrigo de Pombal, no distrito de Leiria, recebeu entre 2001 e
2018, um total de 1.007 mães e filhos, vítimas de violência doméstica.Uma
das mulheres que ali encontrou abrigo decidiu sair. Foi embora numa
sexta-feira e na segunda-feira foi morta a tiro pelo companheiro.Sentimentos
de culpa, medo, vergonha e dependência financeira estão entre as causas
que impedem as vítimas de procurar ajuda e de quebrarem o vínculo com o
agressor. “Numa aldeia pequena, tenta-se
esconder. A sociedade vai dizer: ´ coitada leva porrada ´ ou ´se leva é
porque alguma coisa fez´”, conforme contou à Lusa uma das mulheres que
recomeçou do zero em Pombal.Hoje sabe que
se há ameaças psicológicas, a seguir serão físicas e a tendência é para
“piorar um bocadinho”. Esse bocadinho “um dia pode ser o fim”.