'Portugal já está em endemia e deve voltar à normalidade'
Covid-19
26 de jan. de 2022, 15:07
— Lusa/AO Online
Em
declarações à Lusa, o investigador do Instituto de Medicina Molecular
da Universidade de Lisboa adiantou que concorda com o diretor da
Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa, que admitiu
recentemente que a pandemia pode acabar em breve nesse continente.“Concordo
com a OMS. Esta é a evolução normal dos vírus e das pandemias. É isso
que a ciência nos diz ao longo dos últimos 100 anos”, referiu Pedro
Simas, para quem as assimetrias de vacinação ainda existentes entre
vários países europeus está a fazer com que se demore a declarar a
transição de pandemia para endemia.No
domingo, o responsável da OMS para a Europa, Hans Kluge, considerou que,
perante o recente aumento de casos de contaminação provocados pela
variante Ómicron, as políticas de saúde devem agora centrar-se em
“minimizar a disrupção e em proteger as pessoas vulneráveis”, em vez de
procurar diminuir a intensidade da transmissão do vírus.De
acordo com Pedro Simas, no caso de Portugal, que tem cerca de 90% da
população com a vacinação completa contra a Covid-19, os números dos
cuidados intensivos mantêm-se “muito estáveis”, o que prova a eficácia
da vacina contra a doença grave e morte.“Não
deve haver ninguém em Portugal que não tenha imunidade para este
vírus”, adquirida através da vacina, mas também da imunidade natural
gerada pela infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, a qual deve atingir já
cerca de 60% da população, referiu o virologista.Perante
esta taxa de imunização, “tem de se voltar à normalidade” com algumas
exceções, que passam pela vacinação dos grupos de risco com a terceira
dose – idosos e pessoas com doenças associadas -, que podem continuar a
usar máscara, avançou.Para o investigador,
o uso generalizado da máscara deixou de ser necessário nesta fase, a
testagem de despiste do SARS-CoV-2 deve apenas ser feita “em contexto
hospitalar” e cabe às famílias “fazerem a sua autogestão” através de
testes.“É muito importante que o Instituto
Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge continue a monitorizar as
variantes, mas não é expectável que apareça uma variante que destrua a
nossa imunidade protetora. Em princípio, isso não vai acontecer”, disse
Pedro Simas, para quem “Portugal já entrou em endemia há bastante
tempo”.Relativamente aos confinamentos,
Pedro Simas adiantou que, atualmente, “não são muito eficientes”, até
porque o país continua com uma taxa alta de infeções de SARS-CoV-2.“Temos
de assumir a nossa condição, e não estando o Serviço Nacional de Saúde
em `stress´ (cuidados intensivos), não faz sentido isolar as crianças e
famílias inteiras em casa, quando nem sequer é um confinamento
absoluto”, avançou.De acordo com o
especialista, confinar cerca de 10% da população – cerca de um milhão de
pessoas - “acaba por interferir na sociedade”, sem que isso tenha um
efeito na prevenção das infeções.“Houve
alturas de confinamentos severos e totais, houve alturas de testar,
houve alturas de vacinar e até com a terceira dose, agora é altura de
não testar e de desconfiar”, preconizou Pedro Simas, ao salientar que
estas decisões têm de ser tomadas com base na ciência.Tendo
em conta que nos próximos dias o mundo vai atingir o marco “histórico”
de 10 mil milhões de vacinas administradas, o virologista estima que,
dentro de poucos meses, a OMS possa anunciar que a “pandemia vai acabar
este ano”, considerando não apenas a população mundial vacinada, mas
também a imunidade natural adquirida pela infeção.“A
urgência de vacinar outros países já passou, porque se perdeu esta
oportunidade”, avançou o investigador, segundo o qual a disseminação da
variante Ómicron a nível global pode representar o “fim da pandemia no
mundo inteiro”.