Portugal é o país do mundo que consome mais vinho ‘per capita'
12 de mai. de 2023, 17:24
— Lusa
“Os mais velhos
consomem mais vinho”, os adolescentes e jovens adultos cerveja e os mais
novos bebidas espirituosas (‘shots’), adiantou o médico de saúde
pública na subcomissão parlamentar de Saúde Global, onde foi ouvido
juntamente com o diretor-geral do SICAD, João Goulão.Ressalvou,
contudo, que em Portugal, contrariamente ao resto da Europa, as bebidas
espirituosas são “muito pouco consumidas”, representando cerca de 10%,
enquanto o vinho totaliza 60% e o restante é consumo de cerveja.Manuel
Cardoso disse que até 2015 Portugal ia tendo “alguns ganhos em saúde e
alguns ganhos em relação aos consumos”, mas nos últimos anos “isso
parece não ter acontecido”.“Portugal é dos
países com o consumo ‘per capita’ de álcool mais elevado em termos
mundiais”, elucidou, adiantando que o consumo médio de litros de álcool
puro por habitante tinha vindo a baixar ligeiramente, tendo atingido em
2015 os 11,9, valor que subiu para 12,1 em 2019.“Parece
um valor pequeno, mas entrámos em contraciclo com o resto da Europa e,
por isso, é uma preocupação acrescida”, vincou o responsável.O
especialista manifestou preocupação com “o sofrimento que pode vir
acrescido a esses consumos”, quer para o próprio, quer para terceiros. Manuel
Cardoso revelou que, segundo o inquérito à população geral, em 2012,
60% dos portugueses tinham consumido álcool, valor que aumentou para
61,5% em 2022.Apenas houve uma “ligeira redução” dos consumos nos grupos etários mais jovens (15/24 e 25/34 anos).“Mas
quando falamos de embriaguez, as coisas pioram em todos os grupos
etários, quer na população em geral (15/74), 5,1% para 6,5, entre 2012 e
2022”, salientou.O subdiretor geral
aludiu ainda a um estudo que vai ser apresentado em junho, que revela um
aumento de consumos, em particular nas mulheres e nos grupos etários
mais elevados. “Nos grupos mais baixos, dos 13, 14 anos, os consumos das raparigas ultrapassam os dos rapazes e são muito altos”, alertou.Perante os dados apresentados, Manuel Cardoso afirmou que “a mensagem” é que o que está a ser feito “não está a ser suficiente”.
“Não estamos a ter ganhos. Quando falamos de 4,2% da população geral
dependente ou com consumo excessivo, isto é brutal. Pensem a quantidade
de pessoas de que estamos a falar”, vincou.“Nestes
dez anos, em vez de ganharmos, perdemos para as questões da saúde, quer
em termos de mortes por doença atribuída ao álcool, quer nas mortes na
estrada”, lamentou.Segundo o responsável,
os internamentos hospitalares subiram de 31.500 para quase 40.000 e as
mortes de 2.600 para mais de 2.700.Tanto
Manuel Cardoso como João Goulão defenderam que é preciso intervir em
termos das políticas de preços, através do imposto, do preço mínimo por
unidade de bebida alcoólica, mas também na disponibilidade, e nas
questões da publicidade e do marketing, em que se está “a perder o
controlo”.