Portugal e Espanha comprometem-se em evitar dias sem caudal no rio Tejo
Cimeira ibérica
24 de out. de 2024, 11:39
— Lusa/AO Online
Portugal assegurará
que os caudais libertados pelo concessionário português a partir da
barragem de Belver sejam iguais ou superiores a 1,05 hectómetro cúbico
diário (1,05 hm3/dia) no período de maio a novembro e 1,30 hm3/dia no
período de dezembro a abril.Os dados fazem
parte de um documento assinado pelos dois países (no âmbito da
35.ª cimeira Luso-Espanhola que decorreu em Faro), designado “4.ª
Conferência das Partes Da Convenção sobre a Cooperação para a Proteção e
o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas
Luso-Espanholas”, sobre o regime de caudais do Tejo e do Guadiana.No
documento, a que a Lusa teve acesso, há o comprometimento dos dois
países em gerir as albufeiras de Cedilho (Espanha) e Fratel e Belver
(Portugal) para evitar dias sem caudal, e em promover a troca de
informação para acompanhar o acordo.E
também em “continuar a realizar reuniões técnicas mensais, bem como
reuniões regulares de alto nível”, para analisar em conjunto “as
diferentes situações que se vão apresentando” para determinar medidas
de gestão, seja sobre as descargas de Cedilho seja sobre a gestão em
Portugal.Organizações ambientalistas têm
criticado esta decisão, que já tinha sido anunciada pelas ministras dos
dois países com o pelouro do Ambiente numa reunião realizada em
Aranjuez, Espanha, no passado dia 27 de setembro, e consideram que um
caudal mínimo pode não garantir a saúde dos ecossistemas.O
documento sobre a gestão da água dos dois rios hoje assinado compreende
também um caudal mensal mínimo para o rio Guadiana. No documento as
duas partes definem as regras de funcionamento, estabelecendo por
exemplo que em meses não secos se descarreguem em fevereiro 45 hm3 de
água durante dois dias.Tal permite por
exemplo assegurar caudais para espécies migradoras que vêm do mar para
se reproduzirem o rio, como as lampreias ou o sável, ou os que, como o
barbo, sobem o rio.E permitem ainda o arrasto de nutrientes ao longo do rio para o estuário, e redução de assoreamento, diz o documento.Os
dois países estabelecem também que no reforço do abastecimento de água
ao Algarve a captação de água no Pomarão (troço português do Guadiana)
corresponde à captação de um volume anual máximo de 30 hm3 , “nada
obstando a que, mais tarde, o volume a captar seja ampliado até 60
hm3”, tal como a captação de Bocachança (Espanha), “sem, no entanto,
comprometer o regime de caudais definido para a secção de Pomarão,
nem os usos previstos em Bocachança”.A
captação para o reforço de abastecimento de água a Huelva, bombagem de
Bocachança, no troço internacional do Guadiana, “corresponde à
captação de um volume anual máximo de 60 hm3, podendo em situações de
caudais muito elevados captar a acima daquele volume, não podendo,
contudo, prejudicar a realização da operação de libertação dos
caudais de cheia”.