Portugal e Espanha acordam caudais diários para o Tejo e definição para o Guadiana
27 de set. de 2024, 11:54
— Lusa/AO Online
A ministra
portuguesa, Maria da Graça Carvalho, e espanhola, Teresa Ribera,
anunciaram ainda um princípio de acordo para o pagamento a Portugal da
água captada no Alqueva por agricultores espanhóis, nas mesmas condições
e preços que pagam os utilizadores do lado português.Segundo
Maria da Graça Carvalho, este acordo relativo ao Alqueva permitirá
ainda avançar com o projeto português de captação de água na zona do
Pomeirão, distrito de Beja, para abastecimento ao Algarve, que afeta
águas internacionais.Na reunião de hoje,
em Aranjuez, na região de Madrid, as ministras fecharam entendimentos e
princípios de acordo sobre estas matérias, cujos termos concretos e
definitivos vão continuar a ser negociados, com o objetivo de ser
assinado um acordo na próxima cimeira ibérica, prevista para o próximo
mês de outubro, em Portugal.Os rios
partilhados e a gestão da água "será, tudo leva a crer, uma dos
principais assuntos na cimeira entre Portugal e Espanha", que se
realizará "com certeza numa região em que a água é um tema importante",
disse Maria da Graça Carvalho, sem dar mais detalhes.A
ministra do Ambiente, em linha com o que afirmou a homóloga espanhola,
afirmou que os entendimentos hoje anunciados põem "sempre os rios em
primeiro lugar, os ecossistemas, a defesa ambiental dos rios",
compatibilizando este aspeto com as necessidades de água para o consumo
das populações e para diversas atividades económicas.Em
relação ao Tejo, Maria da Graça Carvalho destacou que pela primeira vez
foi assumido o compromisso para haver caudais diários, "algo muito
importante para Portugal", sem adiantar valores.Quanto
ao Guadiana, insistiu que este rio passará a ter "um sistema de
caudais", cujos volumes e distribuição serão fechados nas próximas
semanas, com o primeiro objetivo a ser "a saúde do rio e a defesa da sua
sustentabilidade".No caso do Guadiana,
"os caudais sobrantes serão repartidos de forma igual entre Portugal e
Espanha", disse a ministra portuguesa.Já
Teresa Ribera garantiu que Espanha "entende bem" que para Portugal "um
dos aspetos mais sensíveis" é a garantia de volumes mínimos de
referência nos caudais dos rios.Sobre o
pagamento da água captada no Alqueva por agricultores no lado espanhol,
Maria da Graça Carvalho disse que os dois milhões de euros anuais que
referiu em agosto são uma estimativa e que o acordado é aplicar as
mesmas regras e tarifas definidas para os utilizadores no lado
português."Não é possível pagar para trás
porque não houve contabilização, os regantes provavelmente já não são os
mesmos, ao longo de 25 anos já serão outros. Portugal não faturou, não
há como. Portanto, é olhar para o futuro (...) Seria impossível
reconstruir o passado, porque não foi feito na altura, não foi sequer
pedido que isso acontecesse", disse a ministra do Ambiente, questionada
sobre o pagamento de água já retirada do Alqueva, em anos anteriores.Maria
da Graça Carvalho disse preferir "olhar para o futuro", mas defendeu
que os agricultores portugueses na região do Alqueva "não foram
prejudicados" até agora, "tiveram acesso à agua e puderam desenvolver a
sua agricultura"."A partir de agora vamos
fazer diferente, era impossível fazer um histórico e portanto pusemos
uma pedra sobre o assunto e vamos começar de novo", acrescentou.Maria
da Graça Carvalho e Teresa Ribera tiveram hoje uma reunião bilateral em
Aranjuez, no Palácio Real da localidade, construído nas margens do
Tejo, antes de abrirem um evento dedicado aos 25 anos da Convenção de
Albufeira, o tratado entre os dois países que regula a gestão dos rios
internacionais da Península Ibérica.As
duas ministras consideraram a Convenção de Albufeira um exemplo
internacional pela forma como tem garantido acordos e um diálogo
permanente entre Portugal e Espanha num assunto tão sensível como é o da
água."Tem funcionado bem, mas é sempre
possível melhorar e incorporar as novas ameaças e exigências", disse
Teresa Ribera, que sublinhou o impacto das alterações climáticas na
Península Ibérica, com secas prolongadas e inundações.