Portugal defendeu em Bruxelas que Açores têm "desafios críticos" e precisam da SATA
26 de ago. de 2020, 08:38
— Lusa/AO Online
"Nesse contexto, a SATA tem uma importância
sistémica para a região e o seu turismo em particular, pelo que a sua
saída teria diversas consequências negativas", é referido pelo executivo
junto de Bruxelas.A posição surge na
carta enviada pela vice-presidente executiva da Comissão Europeia
Margrethe Vestager, responsável pela política de concorrência, ao
ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a propósito da
'luz verde' de Bruxelas a um auxílio estatal português de 133 milhões
de euros à transportadora aérea açoriana SATA.O apoio consiste numa garantia de Estado a um empréstimo junto de entidades privadas.A
agência Lusa teve acesso à missiva, datada de 18 de agosto,
aquando da decisão do executivo comunitário, sendo que na ocasião foi
também referido que seria aberta uma investigação para avaliar o
cumprimento das normas comunitárias noutros apoios públicos à companhia.No
argumentário junto de Bruxelas, Portugal lembrou que "um importante
segmento de empresas, nomeadamente hotéis, restaurantes, eventos sociais
e culturais, lojas e outras atividades relacionadas com o turismo"
teriam "dificuldades aumentadas" sem a SATA a trazer turistas e "pessoas
da diáspora" para os Açores."A maioria
das empresas que sobrevivam à crise da covid-19 devido ao apoio do
Governo português através de trabalho temporário subsidiado e medidas
que lhes permitam adiar os pagamentos devidos, precisam que o turismo
cresça", vincou o executivo socialista.Portugal
argumentou ainda que, sem a ajuda financeira, a SATA "deixaria de
cumprir pagamentos imediatos" e uma eventual saída de cena da empresa
iria "perturbar a continuidade territorial entre Portugal continental e
os Açores".As dificuldades financeiras da
SATA perduram desde, pelo menos, 2014, altura em que a companhia aérea
detida na totalidade pelo Governo Regional dos Açores começou a registar
prejuízos, entretanto agravados pelos efeitos da pandemia do novo
coronavírus, que teve um enorme impacto no setor da aviação.Foi
devido a tais dificuldades que a Região Autónoma dos Açores aprovou,
desde 2017, três aumentos de capital na companhia aérea, para colmatar
as carências de liquidez.“As autoridades
portuguesas afirmam que os aumentos de capital em questão não constituem
auxílios estatais ao abrigo das regras da UE, uma vez que o Governo
Regional dos Açores, como único acionista da SATA, atuou como um
investidor privado a operar em condições de mercado”, referiu a Comissão
Europeia.São estes apoios públicos que
Bruxelas vai agora “investigar mais aprofundadamente”, visando perceber
“se os aumentos de capital constituíram auxílios estatais que deveriam
ter sido notificados à Comissão e, em caso afirmativo, se as medidas de
apoio anteriores satisfazem as condições das orientações de 2014
relativas aos auxílios estatais de emergência e à reestruturação”,
concluiu a instituição.O atual conselho de
administração da transportadora açoriana tomou posse em janeiro e
comprometeu-se a apresentar um plano estratégico e de negócios até ao
final do primeiro trimestre do ano, mas a pandemia da covid-19 obrigou a
uma reavaliação do documento.Em julho, a
SATA sublinhou que "o contexto provocado pela pandemia teve um impacto
muito significativo" e, devido à "paragem quase total da atividade,
foram implementadas todas as medidas possíveis ao dispor da gestão, num
cenário em que a preservação da empregabilidade era fundamental".Nos
próximos seis meses, nos termos da regulamentação comunitária, a SATA
irá, conjuntamente com o Governo dos Açores e a Comissão Europeia,
trabalhar no plano de negócios que assegure a sustentabilidade económica
e financeira do grupo e garanta os serviços de interesse económico
geral no transporte aéreo interilhas e com o exterior".