Portugal caiu duas vezes nas 'meias' e outros tantas em 'desgraça'
Mundial2022
9 de nov. de 2022, 17:15
— Lusa/AO Online
O
país ‘produziu’ três Bolas de Ouro, em Eusébio, Figo e Cristiano
Ronaldo, mais uma série incontável de craques, de Peyroteo a Bernardo
Silva, passando por Chalana, Futre, Rui Costa ou João Vieira Pinto, mas
as ‘estrelas’ nunca se ‘alinharam’.Na
competição que fez de Pelé e Maradona lendas eternas, Portugal só
brilhou a espaços, nunca cumprindo o seu ‘destino’, antes pela falta de
competência fora das quatro linhas, ao nível organizativo, e agora mais
pela incapacidade dentro delas, de jogadores e treinadores.‘Omnipresente’
em grandes competições no século XXI, Portugal conquistou um Europeu,
em 2016, que não mereceu, de todo, nessa edição, mas faz justiça a todo o
seu percurso na história da prova, mas, em Mundiais, nem uma final, que
10 seleções europeias já alcançaram, metade das quais para vencerem o
troféu.A seleção das ‘quinas’ até teve uma
estreia brilhante, em 1966, graças sobretudo ao ‘rei’ Eusébio, que
conduziu a equipa ao terceiro lugar, mas, depois disso, só se destacou
mais uma vez, 40 anos depois, em 2006, ao voltar às ‘meias’, para acabar
quarto, liderado por Figo, o sobrevivente da ‘geração de ouro’, os
campeões mundiais de juniores de 1989 e 1991.Pelo
meio, Portugal corou de vergonha com as participações de 1986 e 2002, a
segunda e a terceira, pautadas por confusões internas, fora do campo, e
casos graves de indisciplina, a penalizaram fortemente duas gerações de
enormes talentos, que caíram logo na fase de grupos.De
resto, e apesar de estar agora sempre presente – cumpre em 2022 a sexta
consecutiva, depois de apenas duas nas primeiras 16 edições -, a
seleção lusa, que não falha uma fase final desde o Mundial de 1998, tem
deixado sempre a desejar.Nas três últimas
participações, Portugal até teve ao ‘leme’ Cristiano Ronaldo, a segunda
maior figura da última década e meia do futebol, a ‘sombra’ de Lionel
Messi, mas o ‘7’ nunca conseguiu ser o ‘13’ de 1966 e o resultado foram
duas quedas nos ‘oitavos’, intermediadas por uma eliminação na fase de
grupos.Em termos globais, a seleção lusa
conta um terceiro lugar, um quarto, duas eliminações nos oitavos de
final e três quedas na fase de grupos, para um total de 14 vitórias,
seis empates e 10 derrotas, com 49 golos marcados e 35 sofridos.Em
termos individuais, o nome de Portugal nos Mundiais ‘confunde-se’ com o
do ‘rei’ Eusébio, o único que, até agora, conseguiu entrar na ‘lenda’
da prova: só precisou de uma fase final, que acabou como melhor
marcador.Com o ‘13’ nas costas, o ‘Pantera
Negra’ apontou um golo à Bulgária e dois ao Brasil, de Pelé, na fase de
grupos, quatro à Coreia do Norte, para virar o jogo de 0-3 para 4-3,
nos ‘quartos’, um à Inglaterra, nas meias-finais, e um à União
Soviética, no jogo que valeu aos ‘Magriços’ o último lugar do pódio. Um
‘rei’.Em Inglaterra, na primeira presença
em Mundiais, o ‘onze’ de Manuel da Luz Afonso começou imparável, ao
bater sucessivamente Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e o bicampeão Mundial
em título Brasil (3-1), o que lhe valeu a vitória no Grupo 3.Nos
quartos de final, o ‘sonho’ parecia terminado ao fim de 25 minutos, com
a Coreia do Norte a vencer por 3-0, mas Eusébio tinha outras ideias e
respondeu com quatro golos, dois de penálti, antes de José Augusto
rematar a incrível reviravolta (5-3).Depois,
e num jogo que os ingleses trocaram, à última hora, de Liverpool para
Wembley, Eusébio voltou a marcar, mas um ‘bis’ de Bobby Charlton deixou o
‘rei’ em lágrimas. Ainda recuperou o ânimo e contribuiu com novo tento
para o 2-1 à União Soviética, no jogo de ‘consolação’, decidido por José
Torres.Após estreia tão prometedora,
Portugal só voltou ao Mundial 20 anos depois, e o melhor teria sido
ficar em casa, algo que também se aplica à terceira participação.Em
1986, Carlos Manuel logrou o ‘milagre’ da qualificação em Estugarda
(1-0) e abriu a fase final com novo golo marcante (1-0 à Inglaterra),
mas tudo o resto foi muito triste, traduzindo-se no ‘caso Saltillo’, um
insanável confronto entre jogadores e FPF devido a divergências com os
prémios de jogo.Desportivamente, o ‘onze’
de José Torres, também azarado devido à lesão sofrida pelo guarda-redes
Bento, perdeu, depois, com a Polónia (0-1) e foi humilhado por Marrocos
(1-3), acabando no quarto posto do Grupo F, que qualificou os três
primeiros.Em 2002, e após uma sensacional
fase de qualificação, em que eliminou os Países Baixos, a seleção lusa,
com Figo, então o melhor do Mundo, limitado fisicamente, começou de
forma desastrosa (2-3 com os Estados Unidos) e pagou caro o facilitismo.O
‘onze’ de António Oliveira, com a base da ‘geração de ouro’, ainda
goleou a Polónia (4-0, com três de Pauleta), mas caiu parente a anfitriã
Coreia do Sul (0-1), num jogo em que Beto e João Vieira Pinto acabaram
expulsos. E o avançado ainda ‘atacou’ o árbitro, sofrendo uma pesada
sanção.Foi, assim, preciso esperar até
2006 para ver Portugal voltar a ‘brilhar’ num Mundial: na Alemanha, a
equipa do brasileiro Luiz Felipe Scolari não teve tanto encanto, mas foi
capaz de vencer duas batalhas épicas, para a história.A
fase inicial foi um ‘passeio’, com as primeiras duas vitórias, sobre
Angola (1-0) e Irão (2-0), a garantirem desde logo um prematuro
apuramento para os ‘oitavos’ e uma terceira, com poupanças, face ao
México (2-1), a selar o triunfo no Grupo D.O
Mundial começou, verdadeiramente, na ‘batalha de Nuremberga’, um jogo
com 16 cartões amarelos e quatro vermelhos, com os Países Baixos, que
Maniche resolveu (1-0), com Portugal muito tempo em inferioridade
numérica (10 contra 11 e nove contra 10) e quase sempre sem bola (38 por
cento, contra 62).As grandes emoções
prosseguiram nos ‘quartos’, com Portugal a desperdiçar quase uma hora em
vantagem numérica (expulsão de Wayne Rooney), mas a acabar por vencer a
Inglaterra na ‘lotaria’, com Ricardo (três defesas) como ‘herói’, a
exemplo do Euro2004, e Cristiano Ronaldo a selar o apuramento.A
equipa lusa estava entre os quatro melhores do Mundo - todas europeias
-, mas caiu nas ‘meias’, perante a França, como nos Europeus de 1984 e
2000, vergado a uma grande penalidade de Zinedine Zidane (0-1) e, já sem
‘alma’, deixou o ‘bronze’ para uns anfitriões bem mais fortes (1-3).Quatro
anos depois, na África do Sul, o ‘onze’ de Carlos Queiroz só sofreu um
golo, mas também só conseguiu marcar à Coreia do Norte, brindada com uma
goleada histórica (7-0), tendo somado ‘nulos’ com Costa do Marfim e
Brasil, no Grupo G.Apurado no segundo
posto, atrás dos ‘canarinhos’, Portugal teve pela frente a Espanha e foi
eliminado com um desaire por 1-0, por um tento de David Villa. Os
espanhóis viriam a conquistar o seu primeiro título.Quatro
anos depois, em 2014, no Brasil, Portugal fez bem pior, pois, como em
1986 e 2002, não conseguiu, sequer, ultrapassar a fase de grupos, numa
participação que começou a ficar comprometida logo a abrir, com um
pesado 0-4 com a Alemanha.No jogo
seguinte, Portugal esteve quase a ficar pelo caminho, num duelo com os
Estados Unidos que acabou por empatar (2-2) sobre o final, com um tento
de Silvestre Varela. Ficou, porém, a ser preciso golear o Gana, o que
esteve longe de acontecer (2-1).Em 2018,
na Rússia, Cristiano Ronaldo, no seu quarto mundial, começou em
‘grande’, com um ‘hat-trick’ à Espanha (3-3), incluindo um livre direto
aos 88 minutos, e, depois, com novo golo face a Marrocos (1-0), mas,
entretanto, ‘desapareceu’.Portugal fechou o
Grupo B no segundo lugar, ao deixar-se empatar nos descontos pelo Irão
(1-1), e, no primeiro encontro a eliminar, caiu por 2-1 perante o
Uruguai, vencedor graças a um ‘bis’ de Edinson Cavani.