“Ao
criarmos a nós próprios e nos outros uma expectativa elevada, por vezes
corremos o risco de não ficar muito contentes, quando até temos um
resultado assim. Estamos um pouco tristes, mas termos perdido só com
duas seleções de renome internacional deixa-nos uma sensação de missão
cumprida”, admitiu o selecionador Paulo Jorge Pereira.O
técnico falava aos jornalistas logo após a chegada ao aeroporto
Francisco Sá Carneiro, no Porto, onde a comitiva dos ‘heróis do mar’ foi
recebida por dois adeptos trajados com as cores nacionais, no ocaso de
duas semanas de intensa competição no Egito.Portugal
superou os desempenhos de 1997 (19.º lugar), 2001 (16.º) e 2003, numa
edição organizada em casa (12.º), ficando atrás das oito seleções
presentes nos quartos de final e da Eslovénia, que também teve seis
pontos, mas uma melhor diferença de golos.“Recusaremos
sempre estabelecer metas mais ou menos fáceis de atingir. Se for por
aí, provavelmente ficaremos aquém do que podemos fazer. Temos de ser um
pouco até irrealistas. Infelizmente, vivemos num país que não presta
muita atenção ao desporto e estamos a combater seleções e países que dão
uma importância extrema”, comparou.Paulo
Jorge Pereira lembra que Portugal “consegue equilibrar e, por vezes,
ganhar a esses países”, como sucedeu no triunfo inaugural sobre a
Islândia (25-23), que veio anteceder as vitórias sobre Marrocos (33-20) e
Argélia (26-19) na fase preliminar.Líderes
do Grupo F, os ‘heróis do mar’ entraram no Grupo III da ronda principal
com quatro pontos e impuseram-se à Suíça (33-29), mas as derrotas com
Noruega (29-28) e França (32-23) impediram a passagem aos quartos de
final e à luta pelas medalhas.“A grande
maioria deste grupo está pela primeira vez neste tipo de evento.
Participámos em duas provas consecutivas, que não são suficientes para
conseguirmos gerir as emoções durante resultados muito apertados, em
jogos que não podemos falhar. Isso só se consegue se andarmos mais vezes
neste patamar”, defendeu Paulo Jorge Pereira.O
central Miguel Martins destacou as melhorias patenteadas por um “grupo
muito forte e coeso”, que atingiu há um ano a sexta posição no
Campeonato da Europa, fixando a melhor prestação de sempre, e já é
“olhada com respeito” pelos oponentes.“Ambicionávamos
lutar pelas medalhas e sabíamos que isso poderia ser possível. Fizemos o
nosso trabalho ao vencer a Suíça e cruzámos com duas das melhores
equipas do mundo. Podíamos ter vencido a Noruega e perdemos por um.
Depois aquele jogo tão importante com França não nos correu tão bem”,
rememorou o andebolista do FC Porto.Depois
de ter sido um dos nomes lusos em maior evidência no Egito, com 27
golos em seis jogos, Miguel Martins aponta ao “trabalho a realizar” até
março, quando Portugal lutará por uma presença inédita nos Jogos
Olímpicos frente a França, Croácia e Tunísia.“Estivemos
reunidos no final do Mundial para fazer um balanço e definir a próxima
meta. Depois deste amargo de boca, temos de nos focar ainda mais e
trabalhar nos clubes para podermos chegar lá ainda mais fortes e
acreditarmos mesmo que podemos estar em Tóquio2020, algo que todos
queremos”, atirou o dono da camisola 10, de 23 anos.Paulo
Jorge Pereira antecipa uma “luta terrível” no Grupo 2 do torneio
pré-olímpico, a decorrer de 12 a 14 de março, em Montpellier, onde
Portugal terá um desafio “mais difícil” que o Europeu2020 e o
Mundial2021 e uma “oportunidade única” de fazer história.“Vamos
defrontar a França na casa deles e uma das melhores seleções do mundo.
Por acaso, a Croácia ficou atrás de nós agora, mas acho que foi um
percalço, até porque está sempre lá em cima a lutar pelas medalhas. Vai
ser um osso muito duro de roer”, frisou, consciente de que o andebol
luso “evoluiu um pouco, mas ainda tem muito para fazer”.