Portugal arrisca-se a ser único país europeu com licenciatura em medicina chinesa
27 de fev. de 2018, 10:55
— Lusa/AO online
O
presidente do Conselho Europeu das Ordens dos Médicos (CEOM), o médico
português José Santos, pediu às várias ordens europeias para indicarem
se existe nos seus países licenciatura em medicina tradicional chinesa,
não tendo recebido de nenhum a indicação de uma graduação do género.José
Santos explicou à agência Lusa que fez esta recolha junto das várias
ordens europeias depois de ter sido publicada em Portugal este mês uma
portaria conjunta dos ministérios da Saúde e da Ciência e Ensino
Superior que valida a criação de ciclos de estudo que conferem o grau de
licenciado em medicina tradicional chinesa.Segundo
o presidente do CEOM, Alemanha, Itália, França, Bélgica, Reino Unido,
Roménia, Luxemburgo, Suíça ou Grécia não têm qualquer grau de
licenciatura em medicina tradicional chinesa.A
Áustria oferece uma pós-graduação em medicina chinesa, mas ainda assim,
além de não ser uma licenciatura, estabelece como requisito que seja
frequentada por médicos, médicos dentistas, médicos veterinários,
farmacêuticos, licenciados em ciências ou pessoas com pelo menos dois
anos de formação num centro europeu de reconhecida experiência em
terapêuticas alternativas.“Não
identifiquei um único país com licenciatura”, afirmou José Santos,
lembrando que “a única competência [validada] que existe noutros países,
tal como em Portugal, é a acupuntura, mas realizada por médicos”.Para
o presidente do Conselho Europeus das Ordens dos Médicos, Portugal está
a criar uma “licenciatura onde é posta em causa tudo o que é condição
científica e formação científica que provam a eficácia”.“Abrimos
um espaço enorme de uma quantidade de pessoas que podem prejudicar
seriamente a saúde publica, com atrasos nos diagnósticos ou de proposta
terapêutica”, declarou.Segundo
José Santos, Portugal está a criar “uma licenciatura de não médicos que
vão atuar como pseudo médicos, dentro de uma ‘medicina’ com perigos
graves para a saúde pública”.Em
2013, o Conselho Europeu das Ordens dos Médicos tinha aprovado uma
declaração que indicava que o médico que pratique terapêuticas
complementares deve informar o doente da sua validade científica e que
só deve avançar para estas terapêuticas depois de exlucir a
possibilidade de atuação da medicina convencional.A
Ordem dos Médicos portuguesa já tinha acusado o Governo de ameaçar a
saúde dos portugueses validando cientificamente práticas tradicionais
chinesas através de uma licenciatura.Quando
a portaria foi publicada, o bastonário dos Médicos admitiu avançar para
"formas inéditas" de mostrar o descontentamento dos clínicos.Até
ao momento, uma das únicas medidas anunciadas até agora consiste no
envio aos ministros da Saúde e do Ensino Superior de artigos científicos
sobre os problemas associados à medicina tradicional chinesa.Para
a Ordem, a criação de um ciclo de estudos com formação de quatro anos
"em práticas que não têm base científica constitui um perigo para a
saúde e para as finanças dos portugueses".