População da freguesia das Quatro Ribeiras "em choque" com acidente mortal
15 de mai. de 2019, 13:35
— Lusa/AO Online
“A população está em
choque ainda. Isto é uma localidade pequena, todas as pessoas se
conhecem, direta ou indiretamente acabam por ser familiares. Estamos
todos abalados com isto tudo”, adianta, em declarações à agência Lusa, o
presidente da Junta de Freguesia das Quatro Ribeiras, Bruno Lopes.A
pacatez da pequena freguesia localizada na zona norte da ilha Terceira,
no concelho da Praia da Vitória, com menos de 400 habitantes e uma
população já envelhecida, foi abalada na terça-feira por um
atropelamento, que provocou duas vítimas mortais, quatro feridos graves e
nove feridos ligeiros.Uma procissão de
velas, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, dirigia-se à igreja, por
volta das 20h30, quando um carro bateu
nas pessoas que seguiam mais atrás. O
condutor, que terá dito no local ter sido encadeado pela luz do sol, era
um homem de 32 anos, natural de uma freguesia próxima.O
pároco das Quatro Ribeiras, Carlos Cabral, seguia na procissão junto
com o grupo coral atrás do andor e escapou ileso por pouco.“Foi
um grande susto. O senhor que ia ao meu lado fazendo coro, rezando e
cantando, foi apanhado pelo carro. Está ainda internado”, afirmou.A
procissão ocorre habitualmente em 13 de maio, mas este ano Carlos
Cabral tinha o sacramento do crisma agendado na freguesia vizinha dos
Biscoitos, onde também é pároco, por isso adiou-a para o dia 14.A
imagem de Nossa Senhora de Fátima, a única levada em andor na
procissão, está praticamente intacta na sacristia da igreja, mas terá
caído ao chão no meio da confusão. “Foi
uma coisa tão repentina que nem vi o andor cair. Sei que mais tarde o vi
encostado à parede e a imagem de Nossa Senhora estava no chão”,
salientou o padre.Entre as cerca de 50
pessoas que caminhavam em direção à igreja estava uma ex-emigrante que
tinha regressado há pouco tempo à ilha e que não sobreviveu ao acidente.“Era
uma senhora que tinha vindo para cuidar da irmã. Tinha acabado de
chegar do Canadá, até foi ela quem ofereceu as flores para o andor de
Nossa Senhora”, contou o pároco. A outra vítima mortal, “uma senhora de fé, muito empenhada”, segundo Carlos Cabral, tinha já 84 anos.Na
igreja, outras pessoas, com menor mobilidade, aguardavam pela
procissão, para assistir à missa, que este ano não se realizou. “É
um povo sereno, que se compreende, que se aceita, que se ajuda
mutuamente. Ninguém esperava nada disso. Dizem as pessoas que coisa
semelhante nesta freguesia nunca aconteceu”, frisou o padre.Duarte Rocha não participou na procissão, mas a mulher e a filha tiveram de ser assistidas no hospital. Estava
a trabalhar nas pastagens quando o avisaram do acidente, mas o primeiro
pensamento foi de que tinha acontecido alguma coisa ao filho, também
ele a trabalhar na lavoura.“Foram-me
chamar e eu percebi logo que tinha acontecido uma coisa má”, diz,
acrescentando que nem sabia que a mulher e a filha tinham ido à
procissão.À porta da garagem, momentos
antes de ir buscar a mulher ao hospital, depois de esta ter tido alta,
vai dando as boas notícias a quem passa e lhe pergunta pelo estado de
saúde das duas.“Foi mais o susto. A minha esposa já teve alta e a minha filha veio logo para casa”, contou.“Graças a Deus” é a resposta inevitável de uma população que, apesar da tragédia não perdeu a fé.“Eu tenho de dar graças a Deus. Em minha casa foi só o susto”, sublinhou Duarte Rocha, com a voz embargada.