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Políticos iraquianos (ainda) esperançados
Cinco anos de guerra, cem mil mortos confirmados e um milhão estimados, quase metade da população sem emprego e um terço dos iraquianos sem água potável, aproximando-se o Verão com temperaturas que chegam a ultrapassar os 60 graus centígrados.

Autor: Luís Castro, da RTP, em serviço especial para a Agência LUSA
A família Shuaip recebeu os jornalistas em casa, nos arredores de Bagdad. Entraram sem que os vizinhos percebessem quem eram."Já não se pode confiar em ninguém. Muito menos nas pessoas que vivem na nossa rua", explicou o anfitrião Bassim, chefe de família, ao mesmo tempo que espreitava para as casas ao lado.

    Nahala, a mulher, aproximou-se e cumprimentou os jornalistas com distância. A um estender de mão reagiu com surpresa e olhou para o marido que a autorizou a devolver o gesto, acenando afirmativamente com a cabeça. A mulher de Bassim estava muito bem vestida e cuidadosamente maquilhada. Vestia roupas típicas até aos pés, cobria a cabeça com um lenço que não deixava ver o cabelo e manteve uma postura silenciosa e discreta. É o marido quem lhe determina os gestos.

    Os jornalistas já conheciam esta família sunita de outras vindas ao Iraque. Ele, antigo Major dos serviços secretos de Saddam, é agora correspondente de um jornal japonês, o "Yomi uri Shimbon". Em tempos, confiou um segredo que já não o é. Foi convidado para voltar a ser espião, desta vez para servir a CIA e com a patente de Coronel. Aconteceu em pleno elevador do Hotel Palestina, que foi o “quartel-general” dos jornalistas estrangeiros que testemunharam, em 2003, os primeiros dias da intervenção militar no Iraque por parte de uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.

    Porque recusou? "Também já disse não várias vezes à resistência. Prefiro ser jornalista". Bassim pagou caro essas recusas. Foi atacado pelas milícias e não teve qualquer ajuda dos americanos. Teve de fugir para a Síria. Agora, de regresso a Bagdad, diz que a liberdade deixou de ser prioridade para ele. "A segurança vem primeiro, só depois a democracia. Como poderemos decidir o nosso futuro se temos medo? Como serei livre se não me sinto seguro? Como poderei educar os meus filhos se os raptam e matam à saída das escolas? Acho que todos estes sacrifícios não valeram a pena, pois antes tínhamos um ditador, agora temos dezenas".

    Depois da tentativa de perceber o que sente um iraquiano pouco mais que comum, cinco anos depois do início da guerra, o destino foi o Parlamento de Bagdad para se tentar entender os políticos. Al-Maliki, primeiro-ministro, reuniu os partidos e outras forças que ainda se recusam a participar no processo de reconciliação. Houve quem rejeitasse o convite, mas os que foram deram um pequeno passo para a paz. À pergunta sobre para quando a pacificação entre sunitas e xiitas, Al-Maliki respondeu: “há esperança, até porque acredito que a paz está a acontecer e que a violência sectária está a passar".

    Para este xiita moderado que chefia o governo iraquiano, o país caminhou perigosamente para a guerra civil durante o pico de violência registado no ano passado.

    Agora, Al-Malaki acredita que o caminho é conseguir um acordo com os que ainda se mantêm fora da discussão política, até porque "já ninguém morre por ser xiita ou sunita".