PM húngaro quer dissolução do Parlamento Europeu após escândalo de corrupção
21 de dez. de 2022, 16:33
— Lusa/AO Online
“Queremos
que o PE seja dissolvido” e que os eurodeputados sejam eleitos pelos
parlamentos nacionais e não por voto direto dos cidadãos, como acontece
agora, afirmou o ultranacionalista Viktor Orbán, numa conferência de
imprensa realizada em Budapeste.Orbán,
que tem sido duramente criticado precisamente pelo PE, mas também pela
Comissão Europeia, pelo nível de corrupção associado ao seu Governo e
pelo desrespeito pelas normas do Estado de direito, disse hoje que o
controlo do PE deve ser “mais rígido”.O
caso conhecido como ‘Qatargate’, um escândalo de alegados subornos a
eurodeputados e assistentes de grupos parlamentares pelo Qatar para
ganhar influência em Bruxelas, originou nos últimos dias várias
detenções, entre as quais a da ex-vice-presidente do PE Eva Kaili,
acusada do crime de participação em organização criminosa, branqueamento
de capitais e corrupção.O escândalo está a abalar as instituições europeias, em especial a sua luta contra a corrupção nos Estados-membros.A
presidente do PE, Roberta Metsola, reafirmou, na segunda-feira, que
haverá "tolerância zero à corrupção" na instituição, tendo já prometido
na semana passada, numa intervenção no hemiciclo, reformas nesse
sentido.Segundo vários analistas, a
situação está a ser aproveitada pelo Governo húngaro para deslegitimar
as críticas dirigidas a Budapeste.O PE foi
a instituição europeia que solicitou sanções mais severas contra a
Hungria devido à corrupção no país e à deriva antidemocrática, o que
levou Bruxelas a congelar 6.300 milhões de euros de fundos comunitários
ao país, condicionando a sua atribuição a uma série de reformas legais.Orbán
reiterou ainda um pedido para “drenar o pântano” das instituições
europeias, parafraseando a mensagem do ex-Presidente dos Estados Unidos
Donald Trump durante a campanha eleitoral de 2016, quando afirmou que o
pântano da corrupção em Washington tinha de ser drenado.Na
mesma conferência de imprensa, o primeiro-ministro húngaro também
criticou Bruxelas pela posição face à guerra na Ucrânia, considerando
que a União Europeia (UE) “mergulhou até ao peito” no conflito ao
fornecer armas e ajuda financeira.Considerado
o maior aliado do Presidente russo, Vladimir Putin, na UE, Orbán
afirmou que todos os países que enviaram ajuda para a Ucrânia sob a
forma de armas ou que treinaram soldados ucranianos “estão envolvidos na
guerra”.A ajuda financeira a Kiev
prevista pela UE para o próximo ano – 18 mil milhões de euros – “apenas
sublinha” esse envolvimento, referiu o governante.A
Hungria é o único país dos 27 da UE que se recusa a ajudar o país
vizinho atacado pela Rússia, proibindo mesmo a passagem pelo seu
território de material militar destinado a Kiev, sob a alegação de que
isso significaria envolver Budapeste na guerra.“A
UE mergulhou até ao peito na guerra com o programa de 18 mil milhões de
euros”, ao qual Budapeste se opõe categoricamente, declarou Orbán,
acrescentando que todos os países europeus estão a ser prejudicados pela
guerra em curso.“Até agora a guerra só
tem perdedores, as duas partes [a Ucrânia e a Rússia], mas também a
economia da UE”, já que ninguém beneficia “da separação das economias
europeia e russa”, concluiu.