PM francesa anuncia aprovação forçada do orçamento e oposição avança com moções de censura
19 de out. de 2022, 17:54
— Lusa/AO Online
Desde
o início da discussão do Orçamento, que começou há uma semana na
Assembleia Nacional francesa, que a oposição esperava que a líder do
Governo ativasse este artigo (49.3) que faz com que não seja necessário
submeter aos deputados as contas do Estado para o próximo ano. Criado
para desbloquear situações em que o Governo não tem a maioria para uma
aprovação certa e atempada dos orçamentos, este artigo causa discórdia
no seio da sociedade francesa.Elisabeth
Borne disse "assumir a responsabilidade" desta escolha, assinalando que
fez "uma escolha pelo diálogo", mas que a decisão acabou por recair na
utilização desta 'ferramenta' constitucional. Defendendo
esta escolha, Borne disse que o orçamento que será aprovado não é o que
foi inicialmente redigido pelo Governo, mas um documento que acolheu
cerca de 100 propostas vindas dos diferentes grupos parlamentares.Logo
a seguir a este anúncio feito no hemiciclo do Palácio Bourbon, a
oposição, especialmente a coligação de esquerda Nova União Ecológica e
Social Popular (NUPES), reagiu com a apresentação de uma moção de
censura ao Governo, indicando que o recurso a este artigo da
Constituição é "uma confissão de fraqueza" e "desprezo" do Governo pela
democracia. Também a extrema-direita, de Marine Le Pen, anunciou que vai apresentar uma moção de censura.Um
dos temas ausentes deste orçamento, e essencial para a esquerda, era a
taxação dos 'lucros excessivos' das grandes empresas, com o Governo a
deixar cair a medida. O executivo incluiu
alguns apoios às famílias e vários apoios às empresas sugeridos pela
oposição, incluindo apoios também às associações locais, muito afetadas
pela crise da covid-19.O Governo francês
queria acelerar a aprovação do Orçamento para 2023, já que a partir de
quinta-feira começa a discussão sobre a Lei de Finanças da Segurança
Social, um outro dossier delicado para Borne, havendo ainda 3.300
alterações apresentadas ao Orçamento que não tinham sido discutidas e
podendo os debates arrastar-se durante vários dias.Na
V República, o artigo 49.3 já foi utilizado 89 vezes, sendo que a
última vez aconteceu no início do 2020, quando o Governo de Edouard
Phillipe aprovou desta forma a reforma do sistema de pensões que seria
depois suspensa devido à pandemia e será retomada por Elisabeth Borne. Este artigo pode ser usado uma vez por sessão legislativa, para o Orçamento e para outra lei que o Governo considere essencial.