PM francês alerta para situação económica e anuncia plano de choque
15 de abr. de 2025, 15:26
— Lusa/AO Online
“Há datas
cruciais na agenda política do governo, há horas decisivas, e esta é uma
delas”, afirmou François Bayrou numa conferência de imprensa para
assinalar o lançamento do Comité de Alerta para o Orçamento de 2026, em
que referiu que quer “falar a linguagem da verdade” para os franceses.Numa
conferência com os membros do seu Governo, Bayrou apontou que a
situação do país é agravada pelas crises internacionais, que obrigam a
um aumento do esforço de Defesa, e pela guerra comercial lançada pelo
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.Perante
a guerra na Ucrânia e a reviravolta estratégica dos Estados Unidos, “a
União Europeia tem o dever imperativo de construir uma defesa autónoma”,
graças a “um imenso esforço partilhado, necessário por parte dos outros
países europeus”, no qual “o esforço francês” será reforçado, declarou o
chefe do governo.Por essa razão, o chefe
de Governo francês estimou que “será sem dúvida necessário um esforço de
cerca de três mil milhões de euros suplementares” no orçamento da
Defesa de 2026 para garantir a “independência em termos de segurança e
defesa” da França e da União Europeia.Numa
altura em que pretende economizar 40 mil milhões de euros até 2026,
entre aumento de receitas e redução de despesas, para reduzir o défice
público de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para 4,6%, o objetivo do
chefe de Governo francês é ainda produzir mais para financiar os
serviços públicos franceses.“Se a nossa
produção ‘per capita’ estivesse ao nível dos nossos vizinhos europeus,
não teríamos um défice orçamental e os nossos concidadãos que ganham
cerca de 2.000 euros por mês aproximar-se-iam dos 2.500 euros”, afirmou
Bayrou, defendendo que a França é “o país do mundo que gasta mais
dinheiro público”.Apesar disso, o país
“está longe de estar no topo da classificação da OCDE em termos de nível
de vida, de taxa de desemprego ou de desigualdade”, acrescentou o
primeiro-ministro, considerando que “é possível um reequilíbrio das
finanças públicas”.“A inevitabilidade de
uma dívida excessiva é inaceitável porque não seremos capazes de
suportar sustentavelmente o fardo”, que poderá “atingir 100 mil milhões
de euros em 2029”, contra 67 mil milhões em 2025, segundo Bayrou, que
insiste que a espiral da dívida é “um círculo vicioso, uma armadilha
perigosa, potencialmente irreversível”.François
Bayrou, que considera que “aumentar os impostos” para reequilibrar as
finanças públicas é “insustentável”, convocou ainda uma reunião para 14
de julho para propor “grandes orientações” e as “grandes escolhas”
decorrentes do diagnóstico.“O nosso
objetivo é propô-las até 14 de julho, para que possamos ter uma visão
mais clara das possibilidades e oportunidades que temos pela frente”,
afirmou.Com as sondagens e acusações de
inação após quatro meses de mandato, o centrista François Bayrou
pretende agora iniciar um método de “corresponsabilidade” com os
franceses.O esforço monetário de 40
milhões de euros suplementares para o Orçamento de 2026 corre o risco de
uma moção de censura por parte dos partidos de extrema-direita União
Nacional (RN) e da esquerda radical França Insubmissa (LFI).“Se
o plano é pedir aos franceses que apertem o cinto sem que o Estado faça
economias em termos de imigração, de custo de vida do Estado e das
coletividades locais, faremos tudo para o censurar”, afirmou antes da
conferência o vice-presidente do RN, Sébastien Chenu.Por
outro lado, a esquerda está preocupada com o “impacto recessivo” das
novas economias sobre um crescimento já enfraquecido pelas incertezas
ligadas à política protecionista dos Estados Unidos.