Plataforma Parar o Gás garante que vai parar terminal de gás de Sines
12 de mai. de 2023, 08:53
— Lusa/AO Online
Questionada
pela agência Lusa sobre se, com tanta publicidade, as forças policiais
não estarão de sobreaviso para impedir a medida, a porta-voz da
plataforma respondeu que tal não a preocupa. “Iremos
travar o funcionamento do terminal de gás. É o que temos dito e é o que
vamos fazer”, disse Catarina Viegas em entrevista à Lusa, acrescentando
que o medo das forças policiais é muito menor do que o medo do futuro,
que disse estar em causa devido ao aquecimento global, provocado pelo
uso dos combustíveis fósseis.Há vários
meses que o movimento anunciou a ação para sábado em Sines e nas últimas
semanas jovens ativistas da “Greve Climática Estudantil” têm ocupado
estabelecimentos de ensino em vários locais do país, afirmando que só
param quando tiverem 1.500 pessoas dispostas a participar na iniciativa
de sábado.No entanto até agora os jovens
apenas conseguiram pouco mais de 200 assinaturas, algo que não preocupa
Catarina Viegas, afirmando que a decisão do apoio partiu “Greve
Climática Estudantil”, numa mobilização que considerou extraordinária,
mas acrescentando que as pessoas que vão estar em Sines, de todas as
idades e experiências, “são mais do que suficientes”.Catarina
Viegas não adianta muito sobre como vai decorrer a ação, explicando que
vão sair autocarros de Lisboa, do Porto ou de Coimbra, e que o ponto de
encontro será em Sines, para uma ação para a qual pede que as pessoas
levem água e comida. E coragem.“O que está
sempre presente é a nossa coragem. Cada pessoa vem com essa
consciência, com motivação. Os números não nos tiram a força”, afirmou a
porta-voz, sublinhando que estão preparados para serem parados.A
responsável salientou que as ações serão sempre pacíficas, negando que
esta seja uma luta de jovens, ou muito menos que a maior parte dos
jovens não esteja solidária com a causa.“Esta
luta não é dos jovens, dos estudantes, só porque são a faixa etária que
vai sofrer as maiores consequências das alterações climáticas, embora
tenham sido os que menos contribuíram para elas. É uma luta da
sociedade. Porque as consequências da crise climática estão aqui e não
vemos planos para cortar as emissões necessárias de gases com efeito de
estufa”, afirmou.E a luta, “de coragem e
audácia”, passa no sábado por Sines, “a principal porta de entrada do
gás fóssil em Portugal”, uma infraestrutura que alimenta “o sistema de
exploração e opressão no qual o lucro está no centro e não a vida das
pessoas”.Catarina Viegas chama mesmo ao
terminal de GNL um “local de crime”, lamentando que se vão investir mais
900 milhões de euros em infraestruturas para gás natural, que na
verdade é fóssil, e os “lucros absolutamente extraordinários” da Galp.Nas
palavras da jovem nem as empresas como a Galp têm planos para travar
“as atividades criminosas” nem o Governo, porque o gás “continua a ser a
aposta principal dos governos europeus e também do de Portugal”. Na
entrevista à Lusa a porta-voz disse que há décadas que há informações
sobre os malefícios das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).“Já
não estamos em tempo de negociação. A crise climática não é negociável.
E não há forma de as mudanças acontecerem com negociações simpáticas,
porque a crise climática não é simpática”, considerou Catarina Viegas
quando questionada se não seriam possíveis outras formas de protesto e
sensibilização em vez da ação de bloqueio de sábado.É
que, justificou, na atual situação do planeta é preciso parar as fontes
de emissões de GEE com as mãos e o corpo. “Só uma mobilização coletiva
pode parar este caos climático”, visível nas vagas de calor no mês
passado em Portugal, nas inundações na República Democrática do Congo.“Quando
se ultrapassarem todos os limites vai ser muito difícil reverter esse
caos, porque “não há uma adaptação ao caos”, avisou, referindo que o
tempo é escasso e que “por isso são precisas mudanças rápidas e
eficazes”.O movimento “Parar o gás” tem
como principal reivindicação eletricidade 100% renovável e acessível até
2025 e quer ver o fim da exploração do gás natural, que não é nem pode
ser uma energia de transição. E promete mais ações como a que está
programada para sábado em Sines.Para já o
terminal de GNL, que é “um ataque à vida das pessoas”, assente “num
sistema capitalista devorador do bem-estar e dignidade das pessoas”, um
dos pilares da crise do custo de vida, com a eletricidade a ser
produzida por esse gás e a dar lucros aos acionistas.E
vale a pena tanto esforço? Catarina Viegas não tem dúvida nenhuma. “A
crise climática não é abstrata, há países a sofrer as consequências. E
vale a pena? Não há outra coisa que valha tanto a pena, não há uma luta
mais importante do que esta”.O movimento
já pintou no passado recente as fachadas das empresas Galp e EDP como
forma de protesto contra os combustíveis fósseis.