PGR atribui demora nos megaprocessos de crimes económicos à falta de meios
Ano Judicial
6 de jan. de 2020, 16:15
— Lusa/AO Online
No
seu discurso, na abertura do ano judicial, Lucília Gago remeteu para
mais tarde uma posição sobre a "estratégia nacional, global e integrada
de combate à corrupção”, que sairá de um grupo de trabalho criado pelo
Ministério da Justiça e que deverá ter conclusões em abril, mas
ressalvou que o combate à corrupção pressupõe a afetação de mais meios
humanos e materiais.“O combate a esses
fenómenos criminais, de assinalável grau de sofisticação, e a
especificidade das investigações obriga a um inevitável esforço de
formação dos investigadores e implica um investimento de tempo e de
recursos financeiros que não pode ser menosprezado e que reclama, antes
de mais, a assunção de uma inequívoca opção estratégica, assumida com
inquebrantável vigor”, frisou.A
procuradora-geral da República (PGR) chamou também a atenção para a
necessidade de o Estado confiscar os proventos dos crimes, impedindo
“que os benefícios económicos originados pela atividade criminosa sejam
camuflados e livremente usufruídos, procedendo à sua eliminação”.“O
combate a uma criminalidade especializada, complexa e essencialmente
focada no lucro não se basta com a imposição de uma pena aos respetivos
agentes, mas reclama a remoção dos benefícios obtidos”, afirmou a
magistrada, notando que “só assim se logrará asfixiar financeiramente os
que encontram no crime a forma exclusiva de obter lucro”, referiu.Lucília
Gago não fugiu à polémica autonomia ‘versus’ subordinação hierárquica
no Ministério Público (MP), afirmando que existe um debate interno no
que respeita à fase de inquérito do processo penal, admitindo que existe
uma “corrente avessa a interferência ou ingerência hierárquica, de
qualquer nível, na condução das investigações criminais”.“Percebe-se,
com indiscutível clareza, que a dualidade autonomia ‘versus’
dependência hierárquica continua hoje tão viva quanto outrora”, afirmou a
PGR, observando que ganha notoriedade a tese que privilegia a autonomia
de cada magistrado em detrimento do espírito de corpo único e da
unidade da ação do MP e da sua estrutura hierarquizada.No
seu discurso, Lucília Gago fez também referência à criação já este ano
dos Departamento de Tecnologias e Sistemas de Informação e ao
Departamento de Cooperação Judiciária e Relações Internacionais e da
entrada em funcionamento do Departamento Central de Contencioso do
Estado e Interesses Coletivos e Difusos, bem como às recém-criadas
Secções Especializadas Integradas de Violência Doméstica em Lisboa,
Seixal, Sintra, Porto e Matosinhos, que permitem um tratamento
concentrado e especializado.A PGR falou
ainda na importância do sistema de justiça juvenil, considerando fulcral
uma melhor abordagem a fenómenos de violência juvenil, especialmente no
meio escolar, no seio da família e os praticados em ambiente digital.Este
ano, a cerimónia de abertura do ano judicial decorreu no Palácio da
Ajuda, em Lisboa, devido às obras de beneficiação que decorrem no
edifício do Supremo Tribunal de Justiça.