Pessoas sem teto lançam apelo urgente ao Governo para enfrentarem o Inverno

Hoje 08:57 — Flipe Torres

Uma carta aberta subscrita por 115 pessoas - a maioria a viver na rua, em abrigos de emergência ou em locais altamente precários - chama a atenção para a situação das pessoas em situação sem teto (PSST) em São Miguel.Dirigida ao Presidente do Governo Regional dos Açores, à secretária regional da Segurança Social e Saúde e aos presidentes das câmaras municipais de Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa e Nordeste, a missiva, denuncia o aumento significativo deste fenómeno e alerta para a ausência de condições mínimas de segurança e dignidade com o inverno prestes a intensificar-se.De acordo com estimativas da Novo Dia – Associação para a Inclusão Social, existem atualmente 150 pessoas nesta situação apenas nos concelhos de Ponta Delgada, Ribeira Grande e Lagoa, um número que tem vindo a crescer e que inclui também pessoas oriundas de outros concelhos da ilha.Na carta aberta, os autores descrevem em detalhe a realidade quotidiana de quem vive exposto ao frio, ao vento, à chuva e à instabilidade permanente. Relatam a impossibilidade de encontrar um local seguro onde dormir, guardar pertences ou aceder a alimentação e higiene adequadas, e sublinham que viver na rua “não é, nem nunca foi, uma escolha”.O agravamento das condições meteorológicas, associado a períodos frequentes de alertas laranja e amarelo, deixa estas pessoas sem qualquer solução de emergência. A carta apela à adoção imediata de medidas com caráter urgente, nomeadamente a abertura de um novo centro de alojamento temporário para os próximos seis meses e a disponibilização de espaços protegidos, mesmo que improvisados, equipados com camas, agasalhos, refeições quentes, condições de higiene e acesso a cuidados de saúde.Iniciativa das pessoas em situação sem tetoEm declarações ao Açoriano Oriental, Hélder Fernandes, diretor técnico da Associação Novo Dia, confirma que estas preocupações têm sido reiteradas nas reuniões realizadas com pessoas que vivem na rua.Explica que muitas delas relataram diretamente “as dificuldades de passar o inverno debaixo de chuva e intempéries” e descrevem situações em que, perante avisos meteorológicos, “não têm onde pernoitar”. Segundo diz, a resposta existente “não é suficiente”, não cobrindo as necessidades básicas das pessoas sem teto, que continuam sem acesso a um espaço seguro. “Há cada vez mais pessoas sem teto, e isso é preocupante”, refere.Hélder Fernandes acrescenta ainda que esta carta resulta de uma iniciativa das próprias pessoas que se encontram na rua, que decidiram organizar-se para transmitir o seu apelo às autoridades regionais e municipais. “A maior parte foram pessoas que estão mesmo a viver esta realidade, que quiseram fazer chegar este pedido”, afirma.Para além das medidas imediatas, o diretor técnico da Associação Novo Dia considera fundamental que, a médio e longo prazo, se reforcem as respostas habitacionais para toda a população, e em particular para quem se encontra em situação de sem teto, através de modelos que priorizem o acesso à habitação como instrumento de reintegração social.Ainda segundo Hélder Fernandes, a carta permanece aberta à subscrição de cidadãos que “reconheçam a urgência de respostas eficazes e em tempo útil”.