Pessoas mais pobres desconfiam das instituições e isso é risco para a democracia
15 de mai. de 2024, 11:18
— Lusa/AO Online
A
análise consta do relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, tendo por
base uma pergunta do Eurobarómetro, e que dá conta de que 97% das
pessoas com dificuldades económicas não confiam nos partidos políticos,
82,5% não confia na Justiça e 66% não confia no Governo ou câmaras
municipais.“As pessoas que vivem numa
situação económica mais confortável declaram maior satisfação com a
democracia do que aqueles que têm quase sempre dificuldade para pagar as
contas”, lê-se no relatório.Refere que a
satisfação com a democracia é menor ao nível nacional do que europeu,
apontando que “mais de um em cada dois indivíduos que têm dificuldades
manifesta-se insatisfeito com a democracia em Portugal”.Em
declarações à agência Lusa, a economista e investigadora Susana
Peralta, uma das autoras do relatório, salientou que são as pessoas que
reportam dificuldade em pagar as contas aquelas que têm a menor
confiança nas instituições.“Julgo que o
que acontece é que as pessoas sentem-se privadas e sentem-se até, de
certa forma, excluídas, no sentido em que observam à sua volta pessoas
que têm formas de viver mais confortáveis e [isso dá] a perceção de que o
sistema de alguma forma não lhes vale tanto quanto elas entendiam que
mereciam e tanto quanto elas veem que o sistema vale aos seus
concidadãos”, apontou a professora da Nova School of Business &
Economics.Para Susana Peralta, os elevados
números da desconfiança devem fazer a sociedade e as próprias
instituições questionarem-se, apontando que são “ilustrativos de um
certo terreno fértil para projetos que questionam as bases do sistema”.“Estas
pessoas, que se sentem de alguma forma excluídas do mapa institucional
que nós criámos para gerirmos a nossa sociedade, poderão aderir a
projetos que questionam as bases destas instituições e isso é
problemático”, alertou.Lembrou, a
propósito, o cientista político holandês Cas Mudde, especialista em
projetos na extrema-direita populista, que refere que “a extrema-direita
traz soluções fáceis para problemas difíceis”.“Este desligar das pessoas mais frágeis das instituições é um risco para nós em democracia”, enfatizou.