Pesca de arrasto acelera crise ecológica no Mediterrâneo
22 de jun. de 2022, 08:40
— Lusa/AO Online
A análise –
realizada pela Fundació ENT (Espanha) e MedReAct (Itália) sobre o setor
de arrasto no Mediterrâneo ocidental – indica que, apesar de esta arte
ser praticada há séculos neste mar, nos últimos anos, a preocupação
sobre o seu impacto ecológico intensificou-se.A
Fundació ENT e a MedReAct consideram que a publicação do documento – em
plena crise energética – coincide com um “momento crítico” em que a
União Europeia (UE), no quadro do Pacto Ecológico Europeu “Green Deal”,
procura integrar um futuro sustentável para o oceano, um espaço que
ocupa 70% do planeta e que sofre graves consequências devido à
sobrepesca, poluição e os impactos das alterações climáticas.Segundo
o texto, elaborado com investigadores de Espanha, Itália e Estados
Unidos, o setor só consegue evitar grandes perdas económicas todos os
anos “graças às generosas doações dos governos”.O
arrasto, de grande importância socioeconómica para as comunidades
costeiras mediterrâneas, indica o relatório, faz “uso antieconómico dos
recursos comuns, além de ser a pesca que mais consome combustível, está a
acelerar a crise ecológica do oceano”.Na
ótica dos investigadores, a seguir à mão-de-obra, o combustível é o
maior custo do setor do arrasto, que “goza de importantes isenções
fiscais sobre o combustível”.Em
2018, segundo os dados, os desembarques de arrastões no Mediterrâneo
ocidental representaram “um benefício líquido de 34 milhões de euros”.“No
entanto, se os repasses financeiros do Governo [espanhol] não fossem
levados em consideração, o setor de arrasto sofreria grandes perdas”,
lê-se num comunicado.De
acordo com o estudo, as isenções de impostos sobre os combustíveis em
2018 para as frotas de arrastões, espanholas, francesas e italianas no
Mediterrâneo ocidental ascenderam a 93 milhões de euros, ou seja, quase
três vezes os lucros líquidos declarados pelo setor.Com o atual aumento do custo do combustível, “hoje esse valor seria muito maior”.Para
o professor Rashid Sumaila, da University of British Columbia, que
revisou o estudo junto com o seu colega, o professor Daniel Pauly, “o
setor de arrasto, tal como é hoje, simplesmente não seria economicamente
viável”.Analisando
os dados, Rashid Sumaila diz se aqueles fatores forem tidos em conta, o
que parecia em 2018 como um lucro líquido de 34 milhões de euros foi
“na realidade um retorno negativo de cerca de 77 milhões de euros”.“A pesca de arrasto tem enormes custos ocultos”, observou.Além
disso, “entre 2013 e 2018, a frota da UE no Mediterrâneo ocidental
consumiu 1,2 mil milhões de litros de combustível e foi responsável por
cerca de 3,3 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono
(CO2), embora esta contribuição não tenha sido tida em conta nas
atribuições nacionais vinculativas de emissões.O
coautor do relatório da Fundació ENT, Luis Campos Rodrigues, assegurou
que, “se os níveis de preços do regime de comércio de direitos de
emissão da UE de março de 2021 fossem aplicados às emissões diretas do
consumo de combustível dos arrastões no Mediterrâneo ocidental, as
frotas italiana, espanhola e francesa teriam um custo oculto de carbono
de cerca de 13,2 milhões de euros”.Se
os custos climáticos das emissões diretas da frota forem monetizados e
adicionados às isenções de impostos sobre combustíveis e subsídios
governamentais, “as perdas anuais de arrasto chegariam a 77 milhões de
euros, de acordo com os números mais recentes da UE”, acrescenta o
texto.