Peritos querem que características da população contem para financiamento na saúde
16 de mai. de 2023, 08:50
— Lusa/AO Online
O consenso a
que os peritos chegaram
aponta para a manutenção de um financiamento por capitação – em que o
Estado calcula à partida o valor que cada cidadão que reside numa
determinada área geográfica vai consumir em termos de cuidados de saúde e
paga esse valor à ULS -, mas melhorado e que valorize mais os
resultados em saúde.“Queremos que o
financiamento pela capitação seja melhorado que o ajustamento pelo risco
seja mais bem feito, tendo em conta as reais características da
população, coisa que não tem acontecido”, disse à Lusa Xavier Barreto,
presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.Além
disso, explicou, uma parte do financiamento das ULS (10%) é reservada
para indicadores de qualidade e eficiência, dos hospitais e dos centros
de saúde.“Queremos que essa parte que seja
dedicada a indicadores de qualidade e eficiência, onde também deve
estar o tal valor em saúde, aquilo que é a avaliação dos doentes, suba
para 20%, ou seja, queremos que o financiamento hospitalar valorize mais
resultados em saúde. Queremos associar mais os resultados ao
financiamento, coisa que não tem acontecido”, acrescentou.Xavier
Barreto disse que o ajustamento do risco que cada população tem de
ficar doente é passível de ser calculado com a informação disponível nas
unidades de saúde.“Temos dados clínicos,
praticamente de toda a nossa população, quer nos processos clínicos e
nas bases de dados dos centros de saúde, como os hospitais. É informação
que basicamente não é usada e que deveria ser usada, até para este
efeito de ajustamento com base no risco para efeitos de cálculo da
capitação”, afirmou.As unidades pagas por
capitação têm um grande incentivo em desenvolver programas de promoção
da saúde e prevenção da doença para que as pessoas fiquem menos doentes."É
um incentivo muito diferente daquele quando se paga pela produção, onde
os hospitais aí querem que os doentes venham ao hospital”, afirmou.Sobre
o financiamento por capitação com ajustamento do risco, Xavier Barreto
disse que há dados clínicos que permitem tal cálculo, mas falta
“informação clara sobre aquilo que é o valor e saúde para o doente”.“Temos
de fazer uma coisa que é básica, que é perguntar ao doente qual é a
apreciação que ele faz dos cuidados de saúde que está a receber. E,
isso, nenhum hospital está a fazer. Grande parte dos hospitais são
financiados em função da sua produção e nós entendemos que o foco deve
ser outro. Deve ser em função do valor que acrescentamos na perspetiva
do doente, em função da experiência do doente, em função de resultados
em saúde que possamos obter”, disse. O
consenso entre peritos resultou do Projeto 3F, uma iniciativa que
discute financiamento hospitalar e a forma como o Estado aloca dinheiro
aos hospitais.No âmbito desta iniciativa,
foi lançado o projeto-piloto Farol no IPO do Porto que concluiu que o
financiamento, no caso do cancro de pulmão, fica aquém daquilo que são
os reais custos da instituição de saúde e que o orçamento está mal
distribuído, financiando mais o primeiro ano do que o segundo.Atualmente, com a entrada de mais inovação terapêutica, estima-se que o subfinanciamento esteja acima dos 80%.Na
avaliação ao projeto-piloto, os especialistas concluíram pela
necessidade de criar um modelo de financiamento alternativo para
tratamento dos doentes com cancro do pulmão, revendo o montante pago
pela ACSS (Administração Central do Sistema de Saúde) aos hospitais que
tratam esta doença. A proposta alternativa
de financiamento contempla a inclusão de incentivos por resultados em
saúde obtidos, uma componente que seria variável. Assim, os hospitais
passariam a receber um montante mensal maior por doente (1.698 euros)
para a componente fixa, acrescido de até 340 euros para a componente
variável em função dos resultados (relativo aos indicadores clínicos e
aos reportados pelo doente).