Autor: Lusa /AO Online
Ao longo de todo o ano é possível orar ou contemplar a imagem do Santo Cristo a partir das grades que existem no interior da igreja da Esperança e que dão diretamente para o coro baixo do convento.
Mas a experiência de estar "frente a frente" com a imagem “é inexplicável e é sempre uma grande emoção", descreveu à Lusa Catarina Amaral, 52 anos, natural de São Miguel, mas a residir no Canadá há 49 anos.
As festas do Santo Cristo estavam suspensas há dois anos devido à pandemia de covid-19, que impediu a realização das procissões de sábado e domingo, dois cortejos que integram anualmente a imagem do Santo Cristo.
Catarina Amaral veio a São Miguel propositadamente para as festas do Santo Cristo.
Veio para cumprir "uma promessa da irmã" feita por motivos de saúde, que a pandemia "só agora deixou que fosse concretizada".
“Já não vinha à minha ilha há nove anos. Fico sempre tão emocionada ao ver a imagem de perto", disse a emigrante açoriana, rodeada do marido e dos filhos, no Campo de São Francisco, ansiosa por ver de perto a imagem do Santo Cristo.
É a primeira vez que os filhos de Catarina Amaral assistem às festas do Santo Cristo e podem ver "frente a frente" a imagem.
"Há 32 anos que o meu marido não estava cá", acrescentou a emigrante, natural da ilha de São Miguel, à espera de ver a imagem do Santo Cristo.
Em redor do Campo de São Francisco, cumpriram-se hoje as promessas ao Santo Cristo, com uma multidão de peregrinos de joelhos e outros carregando molhos de círios (velas) às costas.
Muitos dos fiéis, homens e mulheres, optaram por cumprir a promessa sozinhos, mas alguns fizeram o trajeto acompanhados por familiares ou por amigos, que caminhavam ao seu lado.
“Quem tem fé a dor passa”, confessou à reportagem da agência Lusa Maura Rocha, 42 anos, residente na Ribeirinha, concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, após cumprir a promessa de joelhos em redor do Campo.
Maura e a irmã, Carina Botelho, de 38 anos, optaram por vir até Ponta Delgada “bem cedo”.
"Viemos às sete da manhã, porque ainda vamos trabalhar hoje", explicou.
Junto ao Santuário da Esperança dezenas de peregrinos faziam fila para a compra de círios.
"A fé é que nos ajuda", disse à Lusa Dinis Jesus, 54 anos, residente em Ponta Delgada, em São Miguel, carregando dois círios para levar na promissão de domingo.
Passados dois anos, sem festividades, Dinis Jesus diz que este ano o sentimento "é ainda maior e muito forte".
"Não interessa a chuva. Estou muito emocionado de ver o Senhor na rua. Fui criado com estas festas", sublinhou à Lusa.
As festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, consideradas a segunda maior manifestação religiosa do país depois das peregrinações a Fátima, levam anualmente milhares de peregrinos de todo o mundo até à ilha de São Miguel, oriundos das nove ilhas dos Açores, do continente, assim como dos Estado Unidos da América e do Canadá.
As festas iniciaram-se na sexta-feira e têm por referência a imagem do "Ecce Homo", tendo por base o quinto domingo a seguir à Páscoa.
Este ano as festas decorrem até quinta-feira (dia 26) e têm um novo formato, ainda devido à pandemia, já que a imagem do Santo Cristo permaneceu no adro da Igreja do Santuário na noite de sexta-feira e assim acontecerá hoje e no domingo.
Ainda na tarde de hoje realiza-se a procissão com a imagem do Santo Cristo em redor do Campo de São Francisco, na cidade de Ponta Delgada.
No domingo, pelas 16:30, a Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres sai do convento para integrar a procissão, iniciando um trajeto de cerca de quatro horas.