Pedro Strecht receia que abusos sexuais possam ter continuado na Igreja
25 de ago. de 2022, 08:44
— Lusa/AO Online
Na Grande Entrevista, hoje à RTP, Pedro
Strecht revelou que “uma das grandes inquietações” da Comissão
Independente (CI) é “saber se os abusos não têm continuado”, se não terá
havido repetições, a partir de casos passados. Segundo o responsável, muitos dos acusados nos testemunhos continuam no ativo e podem continuar a abusar.O
pedopsiquiatra reconheceu também, a propósito de vozes críticas que se
têm levantado dentro da igreja à atuação da comissão, que há quem tenha
interesse em manter um véu sobre os casos de abuso sexual.“Percebemos bem que há um setor da Igreja Católica que quer manter os segredos”, afirmou. Pedro
Strecht afirmou que houve muitas centenas de casos de abusos sexuais de
crianças em Portugal e que “é muito claro que houve encobrimento da
hierarquia católica em Portugal”, uma situação que começou a mudar,
graças ao Papa Francisco e à sua política de “tolerância zero”, que “foi
muito importante nesse processo.Outra
revelação que o responsável fez é que “tudo indica que tem havido
deslocações dos abusos de dentro para fora da Igreja, situações
reportadas a grupos de jovens, de escuteiros, escolas”.Fazendo
um balanço dos testemunhos recebidos até ao momento, o coordenador da
CI revelou que “há 400 queixas validadas”, mas que a comissão também
recebeu alguns inquéritos que não validou, embora sejam uma minoria.De entre os crimes sexuais validados, 60% são relativos ao sexo masculino e 40% ao sexo feminino, acrescentou.Toda
esta listagem é enviada para a Conferência Episcopal Portuguesa e, até
ao momento, já foram encaminhados 17 casos para o Ministério Público.Explicando
a razão por que de entre tantos casos são tão poucos os referenciados
ao Ministério Público, Pedro Strecht explicou que muitas pessoas
contactam em anonimato, “nomeiam o abusador, não se nomeiam a elas
próprias”, e que noutros casos as queixas já prescreveram.Na
entrevista, o responsável garantiu ainda que o trabalho desta comissão
independente criada para investigar abusos sexuais na Igreja Católica
portuguesa estará concluído até 31 de janeiro.