Pedro Pablo Pichardo, campeão da serenidade no ouro olímpico
Tóquio2020
5 de ago. de 2021, 09:46
— Lusa/AO Online
“Tem a
ver com a minha personalidade, não sou muito emotivo. Sou mais
reservado, sério. Para me verem emocionado é difícil. Mesmo quando a
filha nasceu, a minha mulher perguntou-me o mesmo. Se não estava feliz.
Não sou muito emotivo. Sou mais sério. Não sou de emoções”, explicou, na
conferência de imprensa após a sua coroação na pista.Pichardo
começou o concurso com 17,61 metros, que nenhum outro competidor
conseguiu igualar, e parecia ter percebido logo ali que a sua luta seria
contra si próprio e o desejo de bater o recorde do Mundo, do britânico
Jonathan Edwards, fixado em 18,29 metros.Na
pista, o seu banco de descanso estava separado dos de todos os outros
competidores – havia entre eles uma arca com garrafas de água -, não por
castigo, mas para se manter reservado, imune às emoções de quem
competia para o acompanhar no pódio.“O seu
temperamento é assim. Inculquei-lhe essa tranquilidade. Por isso é
normal que esteja sempre assim, quer ganhe, quer perca”, explicou, à
Lusa, Jorge Pichardo, o pai e treinador desde os seis anos do atleta,
que tem agora 28.Havia permanentemente um
operador de câmara junto a si, mas isso não o incomodava, nem os
diferentes estados de humor dos seus rivais, alguns dos quais muito
expansivos pelas marcas alcançadas, outros menos contentes pelos
falhanços na areia. Depois do segundo
salto, Pedro acercou-se da bancada para falar com o progenitor:
“Disse-lhe que coordenasse o trabalho dos braços no primeiro salto e que
atacasse a tábua, pois ficou duas vezes a 13 centímetros”. Como
bom aluno, e depois de apontar, novamente, os dedos ao céu e
‘dirigir-lhe’ umas palavras, no terceiro salto voou 17,98 metros e não
ficaram dúvidas nas despidas bancadas do estádio olímpico de que o ouro
estava entregue.Nesse momento, faltava
apenas saber se a marca dos 18 metros seria ultrapassada, eventualmente
com um novo melhor registo para a posterioridade: houve um momento em
que Pichardo se aproximou da caixa de areia, dobrou-se com as mãos nos
joelhos e fixou o olhar na sua marca e na distância que ainda precisava
superar.Foi só aí que Pichardo pediu
palmas às bancadas, onde cerca de 30 elementos da missão portuguesa
cumpriram, com precisão olímpica, para ajudar no impulso que poderia
fazer história: em vão, não concretizou qualquer dos saltos. Mal
o chinês Yaming Zhu fez nulo na sexta e última tentativa, confirmando o
título do português, a comitiva lusa saltou para celebrar, mais
eufórica do que o protagonista na pista.Lançaram-lhe
a bandeira de Portugal e foi com orgulho que a colocou às costas,
posando para os fotógrafos, mantendo-a enquanto cirandava pela pista,
imutavelmente com um ar discreto para quem tinha acabado de cumprir o
sonho de todos os desportistas: ser campeão olímpico. Pichardo
venceu o concurso com um salto de 17,98 metros, novo recorde nacional,
conquistando a primeira medalha de ouro para Portugal em Tóquio2020,
depois da de prata de Patrícia Mamona na prova feminina do triplo salto e
das de bronze do judoca Jorge Fonseca (-100 kg) e do canoísta Fernando
Pimenta (K1 1.000).Portugal superou os
resultados alcançados em Los Angeles1984 e Atenas2004, edições em que
subiu três vezes ao pódio, passando a totalizar 28 medalhas em Jogos
Olímpicos (cinco de ouro, nove de prata e 14 de bronze), 12 das quais no
atletismo, modalidade que proporcionou também os cinco títulos
olímpicos.