Autor: Lusa/AO Online
“As reportagens televisivas emitidas nos últimos dias sobre a tragédia do elevador da Glória trouxeram a público informações até agora desconhecidas do órgão Câmara Municipal de Lisboa (CML), informações essas que contradizem outras anteriormente prestadas ao executivo municipal e publicamente pelo presidente da Câmara e pelo Conselho de Administração (CA) da Carris”, afirmou a vereação do PCP, num pedido de informação dirigido a Carlos Moedas.
A primeira questão do PCP tem a ver com a abordagem desencadeada pela empresa municipal Carris, que tem como acionista único a CML, na fase de concurso público lançado em 2022, “face ao preço anormalmente baixo apresentado pela empresa MNTC, Lda., que veio a ganhar o concurso para a execução de trabalhos de manutenção dos ascensores e elevador operados pela Carris”.
O elevador da Glória, em Lisboa, sob gestão da empresa municipal Carris, descarrilou no dia 03 de setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
Sobre o contrato com a empresa MNTC, a vereação do PCP reforçou que o preço apresentado a concurso, designadamente na componente principal do serviço de manutenção, “era 46% inferior ao preço-base estabelecido em caderno de encargos”.
Considerando “imprescindível assegurar tão prontamente quanto possível o cabal esclarecimento de questões anteriormente já suscitadas”, mas que não obtiveram até ao momento a devida resposta, o PCP pediu ao presidente da CML para que haja, com caráter de urgência e até à realização de reunião extraordinária do executivo municipal, uma resposta por escrito à equipa de acompanhamento do apuramento de responsabilidades sobre o acidente com o elevador da Glória, que integra todas as forças políticas com representação no município.
Os comunistas querem saber qual a abordagem desencadeada pelo júri do concurso perante a apresentação, pela proposta vencedora, de “um preço de prestação de serviço anormalmente baixo”, no processo realizado em 2022, para a aquisição de serviços da manutenção dos elevadores.
Outro dos pedidos é “o cabal e completo apuramento dos registos de denúncias e alertas apresentados sobre o funcionamento e manutenção dos elevadores da Carris, designadamente, do elevador da Glória, pelas organizações representativas dos trabalhadores, desde a municipalização da empresa”.
De acordo com o PCP, as recentes reportagens televisivas testemunham, contrariando o que foi afirmado e garantido pelo presidente da Câmara e pelo CA da Carris, “a existência de evidências, inclusivamente documentais, que provam a apresentação, em momentos oportunos, de fundamentados alertas por parte de organizações representativas dos trabalhadores da Carris sobre um deficiente funcionamento de sistemas de segurança do elevador”, suscitando questões sobre a qualidade da manutenção efetuada.
O PCP defende ainda uma audição dos representantes das organizações representativas dos trabalhadores, uma nova audição do CA da Carris, para “clarificar as contradições” relativamente a aspetos do processo de manutenção, e uma audição com membros do anterior CA sobre as opções tomadas em concursos anteriores a 2022.
A este propósito, PS, Livre, BE e Cidadãos por Lisboa avançaram com um requerimento para uma reunião extraordinária da CML, a realizar na quinta-feira, dia 25 de setembro, para obter "esclarecimentos sobre falsidades, omissões e incongruências" no âmbito do acidente com o ascensor da Glória.
Esse
pedido surge na sequência de duas reportagens da comunicação social,
estando em causa, nomeadamente, a "ocorrência de dois acidentes
anteriores — em outubro de 2024 e maio de 2025 — que foram publicamente
negados pelo presidente do CA da Carris e pelo vice-presidente da CML,
mas que a própria Carris veio agora confirmar".