Paulo Gonçalves condecorado a título póstumo com Colar de Honra ao Mérito Desportivo
30 de jan. de 2020, 11:21
— Lusa/AO Online
O anúncio da condecoração
a título póstumo foi feito pelo ministro da Educação, Tiago Brandão
Rodrigues, que tutela a pasta do Desporto, durante a 24.ª Gala do
Desporto, da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), que decorreu no
Casino Estoril.“O Governo decidiu
atribuir, a título póstumo, a mais alta distinção desportiva nacional, o
Colar de Honra ao Mérito Desportivo”, declarou, enaltecendo os
“extraordinários feitos” e “a marca de água de ética e de altruísmo” do
malogrado ‘motard’ de Esposende.Gonçalves,
de 40 anos, morreu no passado dia 12 de janeiro na sequência de uma queda na sétima etapa da 42.ª edição do Dakar, disputada na Arábia Saudita,
naquela que era a sua 13.ª participação.A
paixão pelas motas do piloto de Esposende, dos principais embaixadores
portugueses no motociclismo, graças, sobretudo, ao título mundial de
ralis cross-country conquistado em 2013 e ao segundo lugar no Dakar2015,
nasceu desde cedo, nas traseiras situadas junto da oficina do pai, com o
seu talento a ser rapidamente reconhecido.Foi
no motocrosse e no supercrosse que conheceu os primeiros sucessos, com
vários títulos nacionais conquistados. A rapidez valeu-lhe a alcunha de
‘Speedy’ Gonçalves, que haveria de se tornar a sua imagem de marca, à
semelhança dos desenhos animados de ‘Speedy González’.No
início da década de 2000, acumulou o motocrosse com o enduro, onde
conquistou quatro títulos na categoria e um absoluto, mas foi a vinda do
Rali Dakar para Portugal, em 2006, que redefiniu o seu destino, com a
passagem para as grandes maratonas de todo-o-terreno e o consequente
salto para a ribalta. Uma queda logo na
primeira etapa em Marrocos danificou bastante a mota, passou grande
parte da madrugada a tentar segurar as peças em cima da mota para
conseguir chegar ao acampamento. "Vim com a mota presa por fitas
plásticas e fita adesiva", contaria mais tarde.Nesses
dois anos em que a prova passou por território português, os resultados
não foram brilhantes (25.º e 23.º), mas o gosto pelas provas de
todo-o-terreno ficou, e foi acumulando experiência até que deu o salto
para o estrelato já na América do Sul. Conseguiu o primeiro sucesso na
prova em 2011, vencendo uma especial antes de abandonar na oitava etapa.A
experiência acumulada começou a dar frutos e, em 2013, tornou-se no
segundo piloto português a sagrar-se campeão mundial de ralis de
cross-country, depois de Hélder Rodrigues o ter conseguido em 2011. Em
2015, conseguiu o seu melhor resultado no Dakar, ao terminar em segundo,
com uma especial ganha, apenas atrás do espanhol Marc Coma.Os
anos seguintes não foram felizes em termos desportivos para o
benfiquista assumido – chegou mesmo a ser patrocinado pelo clube, com
direito a apresentação no Estádio da Luz aos adeptos encarnados -,
contudo a edição de 2016 do Dakar havia de eternizá-lo na memória dos
adeptos do rali.Gonçalves parou mais de 10
minutos durante a sétima etapa do Dakar para ajudar o ‘motard’
austríaco Matthias Walkner, que tinha sofrido uma queda, e ficou com ele
até à chegada de auxílio médico.O gesto
do português foi reconhecido pelo Instituto Português do Desporto e
Juventude (IPDJ), que nesse ano atribuiu o Prémio Ética no Desporto ao
piloto, precisamente na Gala do CDP.“Não
sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. Fiz aquilo
que me competia, ao contrário, acredito que fizessem o mesmo por mim”,
escreveu, na altura, o piloto na sua página no Facebook.