Patriarca volta a pedir perdão às vítimas de abuso em carta aos fiéis de Lisboa
1 de set. de 2022, 12:08
— Lusa/AO Online
Numa carta aos diocesanos de Lisboa na
abertura de um novo ano pastoral hoje divulgada no ‘site’ do
Patriarcado, Manuel Clemente escreve não poder “deixar de aludir às
notícias de abusos sexuais que foram aparecendo entretanto”, referentes a
casos na diocese por si tutelada.“Já tive
ocasião de explicar o que se fez e continuará a fazer na diocese, para
corrigir e prevenir tais casos”, continua o patriarca, referindo-se à
carta aberta que divulgou no dia 29 de julho e cujo teor terá comunicado
“pessoalmente ao Papa Francisco”, em audiência no dia 05 de agosto.Nesse
documento, Manuel Clemente assegurava que “desde a primeira hora” deu
instruções, no Patriarcado, “para que a Tolerância Zero e a
Transparência Total sejam regra conhecida de todos” quanto ao abuso de
menores.Na carta aberta em que procurava
esclarecer o que “testemunhou” no caso de um padre acusado de abuso
denunciado em 1999 ao anterior patriarca, José Policarpo, e revelado
pelo jornal Observador, Clemente disse aceitar que “este caso e outros
do conhecimento público e que foram tratados no passado, não
correspondem aos padrões e recomendações que hoje” todos querem “ver
implementados”.O jornal adiantava que
“duas décadas depois” o atual patriarca se encontrou com a vítima, “que
não quis divulgar o caso”, pelo que não foi dado conhecimento às
autoridades judiciais.Segundo Manuel
Clemente, o seu antecessor “acolheu e tratou o caso em questão tendo em
conta as recomendações canónicas e civis da época e o diálogo com a
família da vítima. O sacerdote foi afastado da paróquia onde estava e
nomeado para servir numa capelania hospitalar”.“Uma
vez patriarca, marquei um encontro com a vítima, encontro esse que foi
adiado a pedido da mesma. Em 2019, regressado do Encontro dos
Presidentes das Conferências Episcopais da Europa sobre o tema ‘A
proteção dos menores na Igreja’ promovida pelo Santo Padre em Roma,
sobre a temática dos abusos, pedi um novo encontro à vítima, com quem
conversei presencialmente. A sua preocupação era a de não haver uma
repetição do caso, sem desejar de forma expressa, a sua divulgação”,
referia o patriarca na carta aberta divulgada no final de julho.Já
no documento de hoje, o cardeal patriarca volta a dirigir “um pedido de
perdão institucional e convicto a quem foi vitimado”, garantindo “tudo
fazer para que tais casos não se repitam, ou tenham tratamento eficaz
(…), seguindo as determinações civis e canónicas”, como diz que tem sido
feito também no âmbito da Comissão Diocesana de Proteção de Menores, a
trabalhar desde 2019.“É o nosso
indispensável contributo para a resolução de um problema que surge na
sociedade em geral. No campo institucional, é inegável que a Igreja
Católica em Portugal está na primeira linha da resposta a tão grave
questão. E não poderia ser doutro modo”, acrescenta.A
carta de hoje dedica também grande espaço à próxima Jornada Mundial da
Juventude (JMJ), que decorrerá em Lisboa entre 01 e 06 de agosto de
2023, com Manuel Clemente a expressar o desejo de que o evento “seja
para grande número de jovens de todo o mundo uma ocasião por excelência
de renovar a esperança e reforçar a solidariedade, após tempos difíceis
de pandemia, guerras e dificuldades de subsistência em geral”.Face
à expectativa de que a JMJ possa ser uma oportunidade para colocar em
prática os princípios da sinodalidade, o cardeal patriarca defende que a
realização do evento “só pode acontecer como ‘caminho conjunto’, em que
as capacidades de cada um são reconhecidas e suscitadas, rumo a um
objetivo comum e evangelizador”.“O apelo à
participação na JMJ integra-se no caminho sinodal que toda a Igreja
percorre neste momento, entrando agora em fase continental, depois de
ter passado pela diocesana, como aconteceu entre nós”, sublinha ainda o
cardeal patriarca, acrescentando que, “de um modo geral, sobressaem os
apelos ao reconhecimento da qualidade batismal de todos os fiéis e da
respetiva capacitação para a vida da Igreja, na variedade dos carismas e
dos ministérios, laicais ou ordenados, todos eles respeitados e
valorizados”.