Patriarca defende aborto e eutanásia como prioridades constantes da Conferência Episcopal
15 de jun. de 2020, 18:08
— Lusa/AO Online
“Houve debates socioculturais muito fortes,
por atingirem pontos essenciais da vida e do que ela requer. Disseram e
dizem respeito ao princípio e ao fim da existência humana, ‘da conceção à
morte natural’, posta em causa pelo aborto e a eutanásia. Continuam
presentes e a requerer a nossa atenção prioritária e constante.
Continuaremos a expressar-nos com serenidade e clareza, pois, aqui, como
em tudo, importa mais convencer do que vencer. Como nos disse o Papa
Bento XVI no Porto, a 14 de maio de 2010, ‘nada impomos, mas sempre
propomos’”, disse Manuel Clemente.O
presidente da CEP falava na abertura da Assembleia Plenária deste órgão,
que se inicia hoje e termina na quarta-feira, com a eleição do sucessor
de Manuel Clemente no cargo.No discurso
de abertura da sessão, o último enquanto presidente da CEP, Manuel
Clemente fez um balanço dos sete anos em que esteve à frente da CEP e do
seu Conselho Permanente, considerando que foi “um tempo exigente”,
marcado por “desafios da sociedade e da vida eclesial”, como a crise
económica e financeira que ainda afetava o país em 2013, quando assumiu o
cargo, e a presente crise provocada pela pandemia de covid-19, quando
deixa a presidência da CEP.Para além das
áreas prioritárias dos debates relativos ao aborto e à eutanásia, Manuel
Clemente referiu-se ainda ao “trabalho e a subsistência digna das
pessoas e das famílias, inclusive de quem chega, por imigração ou
refúgio”.Lembrou ainda “temas culturais
propriamente ditos” como a “liberdade de aprender e ensinar, segundo a
escolha de pais e encarregados de educação” e as “boas iniciativas” do
terceiro setor, “que o Estado deve reconhecer e apoiar, ligando
solidariedade (não esquecer ninguém) e subsidiariedade (estimular o que a
sociedade faz por si própria e com bom resultado)”.Recordando
que estas são matérias sobre as quais a CEP se pronunciou, por vezes
com “especial impacto, como as notas sobre a ideologia de género e a
eutanásia”, defendeu ainda que “a eficácia dos pronunciamentos da CEP
depende muito da sua radicação eclesial, ou seja, de brotarem da vida e
da sensibilidade dos crentes”.“Quando esta
coincidência acontece e corresponde a problemas reais da sociedade, têm
acolhimento e consequência. Porém, ainda há muito por fazer no campo da
comunicação interna e externa, da linguagem utilizada e do modo atual
de transmitir e receber”, disse.Manuel
Clemente referiu como bons exemplos a “vivacidade dos pronunciamentos”
com origem em movimentos sociais e profissionais com uma “renovação de
várias formas associativas e apostólicas, quase retomando o espírito da
antiga Ação Católica”, com presença em vários grupos profissionais como
médicos, enfermeiros, juristas, professores, entre outros.“É um bom caminho e deve continuar a fazer-se”, disse.O
cardeal-patriarca abordou ainda o atual momento, mencionando a pandemia
como um “momento especial da sociedade e da igreja em Portugal”, que
“interrompeu brusca e profundamente” o ritmo da sociedade, mas que
despertou solidariedade e criatividade na ajuda aos mais desfavorecidos,
por parte não só da comunidade eclesiástica, mas de toda a sociedade.“Reconheço
e louvo tudo quanto se fez para minorar os efeitos da pandemia, nos
âmbitos da saúde, da segurança social e do ensino, como na continuação
de tudo o que é necessário à vida das populações. Houve heroísmo em
muitos casos, na frente hospitalar e nos lares de idosos, para salientar
os primeiros de muitos outros, onde também não faltou generosidade”,
disse.“Oxalá tanto bem que emergiu, face a
um grande mal, recresça para o futuro, quer superando a pandemia que
persiste, quer para nos retomarmos melhor do que estávamos antes”,
acrescentou.Manuel Clemente assumiu
interinamente o cargo de presidente da CEP em junho de 2013, após
resignação do cardeal José Policarpo, e um mês depois de ser nomeado
cardeal-patriarca de Lisboa pelo Papa Francisco.Em 2014 foi reeleito no cargo para um mandato de três anos, ao que se seguiu uma reeleição para o triénio 2017-2020.A
vice-presidência da CEP é ocupada pelo cardeal António Marto, bispo de
Leiria-Fátima, e o padre Manuel Barbosa ocupa o cargo de secretário.A Assembleia tem hoje início, na Casa de Nossa Senhora das Dores do Santuário de Fátima.Na quarta-feira é conhecido o sucessor de Manuel Clemente, que ocupará a presidência entre 2020-2023.