Partidos divergem sobre data de referendo e mapa de regiões a instituir
Regionalização
12 de jan. de 2022, 18:33
— Lusa/AO Online
No
âmbito de uma conferência intitulada “Regionalização: agora ou nunca”,
que foi organizada pelo Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF e
decorreu hoje no Cinema São Jorge, em Lisboa, representantes dos
partidos com assento parlamentar pronunciaram-se sobre o tema da
regionalização, depois de o primeiro-ministro se ter mostrado favorável à
organização de um referendo em 2024. Pelo
PS, o secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, considerou que,
desde que o Governo de António Costa tomou posse em 2015, tem-se
assistido ao “mais amplo movimento de descentralização que é conhecido
desde 1976”. Apontou neste caso o processo de descentralização de
competências que se encontra em curso e o facto de os presidentes e um
vice-presidente das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais
(CCDR) terem passado a ser eleitos pelos autarcas.“Sejamos
capazes de consolidar esse caminho e, em 2024, realizar o referendo. É
esse o compromisso que temos e assumimos em relação à regionalização:
(…) regionalização, sim, com ponderação, com consolidação de opções”,
frisou José Luís Carneiro. Pelo PSD, o
membro da Direção do Conselho Estratégico Nacional Arlindo Cunha
considerou “haver finalmente, ao fim de tantos desencontros, algum
consenso político essencial” sobre a regionalização, defendendo que esta
deve “avançar em três patamares, com calendários que se intercetam”. Além
da transferência de funções do Estado central para as autarquias locais
que está a decorrer – e que o ex-ministro de Cavaco Silva e de Durão
Barroso acusou de estar a ser gerida de forma “errática”, apelando a que
se estabeleça um “calendário estabilizado”, com um “orçamento
consistente e estável” –, o social-democrata defendeu também a
necessidade de um “plano de medidas de desconcentração no atual quadro
organizativo do Estado” e o estabelecimento do “plano de criação das
regiões administrativas com autarquias regionais”. “O
PSD propõe que se avance desde já com um debate estruturado e
calendarizado. (…) Deveremos consensualizar essa ideia da
regionalização, fazer esse debate estruturado, com base nesse calendário
– que não tem de ser muito demorado –, e avançar para o referendo só
depois de fazermos este debate e termos este consenso básico entre as
principais forças políticas”, afirmou Arlindo Cunha. A
coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considerou que
“nenhum processo de regionalização que não seja capaz de combater a
desigualdade e o privilégio poderá trazer avanço e combater o atraso” de
Portugal. “O Bloco defende um processo
participado, aberto e democrático com vista à regionalização. Aos
acordos do bloco central para distribuição de lugares nas CCDR, propomos
a clareza da democracia através da eleição direta dos representantes do
povo. Mas sabemos também que com a regionalização terá de vir a
exigência que puxa pelo país: a democracia aproxima o povo, o
investimento nos serviços públicos, o combate à desigualdade”, frisou. Pelo
PCP, o líder da bancada parlamentar, João Oliveira, defendeu que deve
ser iniciada uma “consulta às assembleias municipais”, para que escolham
entre dois mapas para as futuras regiões administrativas – ou cinco
regiões cuja área é equivalente à das atuais CCDR, ou oito regiões tal
como foram submetidas a referendo em 1998 – sendo que, uma vez terminada
essa consulta, “a Assembleia da República deve assumir a
responsabilidade de criação da lei das regiões administrativas e a
proposta de convocação de um referendo”. “Desencadeando
o processo já no início de 2022, e cumprindo todos esses passos,
parece-nos que o calendário que propomos aponta a possibilidade de se
concluir todo o processo com a criação em concreto das regiões
administrativas no final de 2023, com a eleição dos respetivos órgãos”,
perspetivou. O ex-dirigente do CDS-PP José
Ribeiro e Castro salientou que o seu partido é a “favor da
subsidiariedade e da descentralização”, mas opôs-se à regionalização nos
moldes propostos, considerando que, quem passa dos atuais 18 distritos
para cinco regiões, “não descentraliza coisa nenhuma", apenas
"litoraliza" e "centraliza, e em que medida!”.
A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, defendeu que o “processo de
regionalização deve ser participado, trabalhado antecipadamente”, de
forma a que as regiões saiam beneficiadas, afirmando que o seu partido
não acompanhará “soluções que se traduzem em mais despesas para o Estado
caso o processo não venha a ser feito de forma adequada”. O
líder do Chega, André Ventura, assumiu-se “frontalmente contra qualquer
forma de regionalização que não passe por um referendo” e “frontalmente
a favor de todos os modelos de desconcentração de subsidiariedade, ou
mesmo de desconexão de competências que permitam descentralizar o
território”, concordando, no entanto, com Ribeiro e Castro de que, com
cinco regiões, não se vai “descentralizar o território”, mas antes
“litoralizá-lo ainda mais”. Pela
Iniciativa Liberal, o presidente, João Cotrim Figueiredo, sublinhou que
“os liberais gostam da descentralização” e “não gostam da concentração
de poderes”, mas afirmou que só aceitará um referendo sobre a
regionalização caso fique claro “que poderes e competências vão ter
efetivamente as regiões”, como vão ser financiadas e qual vai ser o mapa
que vai ser posto à votação dos portugueses.