Participantes nas marchas de Lisboa concordam com a não realização de arraiais
Covid-19
1 de jun. de 2021, 15:50
— Lusa/AO Online
“Independentemente
do que aconteceu no Porto, que nós […] achamos que a situação saiu fora
do controlo, aqui em Lisboa ainda não existem condições para fazermos
arraiais populares na forma como nós conhecemos”, salientou o presidente
do Ginásio Alto do Pina, Pedro Jesus.Em
declarações hoje à agência Lusa, Pedro Jesus explicou que não existem
quaisquer condições para se celebrar os Santos Populares na rua, mas
adiantou que poderão ser realizados “pequenos retiros populares” nas
coletividades, com controlo das regras sanitárias.“Nós
entendemos que a pandemia ainda não chegou ao fim e que temos de tomar
as medidas necessárias com o que tem sido feito. […] O Alto do Pina não
fará nada, porque não existem condições para o fazer”, indicou.Também
o coordenador da Marcha da Bica, Pedro Duarte, disse que, neste
momento, não é possível festejar os Santos Populares, como em anos
anteriores, reforçando que o “essencial é o bem-estar das pessoas”.“Seria
muito complicado conseguir controlar as pessoas. As pessoas estão
sedentas de festa, estão sedentas de se divertir e, como se costuma
dizer – não querendo ferir suscetibilidades –, dói-nos mais a nós,
organizadores e pessoas que vivem isto o ano inteiro, do que aos
outros”, referiu.Em consonância com a
Junta de Freguesia da Misericórdia, Pedro Duarte reiterou que a
realização de festas, durante o mês de junho, “está fora de hipótese”.“Em
2019 tínhamos 20 arraiais oficiais da Câmara Municipal de Lisboa em
parceria com a EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação
Cultural]. Todas essas entidades, todas essas coletividades e
associações estão a passar um muito mau bocado - muito mau mesmo - a
nível financeiro. Muitas delas já fecharam, outras praticantes não têm
dinheiro para as despesas correntes, […] organizar um arraial é muito
difícil”, explanou.Demonstrando alguma
revolta com assunto, o coordenador da Marcha de Alfama contou que, com
as restrições impostas pelo Governo no combate à covid-19, não é
possível “dizer” às pessoas para irem para rua.“Temos
a noção do que estamos a falar ou será que os maus exemplos servem
agora para nós também podermos seguir a mesma senda? Eu acho que é ao
contrário. Tudo aquilo que tem acontecido de mal deve ser para nós
momentos de ponderação e de podermos fazer rigorosamente o contrário,
demonstrar que o caminho não é aquele”, defendeu João Ramos.De
acordo com o responsável, os Santos Populares têm “uma ideia de
partilha e de convívio” que não é possível pôr em prática em contexto
pandémico.“[…] Porque os ingleses fizeram e
então nós também fazemos? Mas, os ingleses [aglomerações de adeptos de
futebol no Porto] fizeram aquilo que não devia ser feito, portanto, esse
exemplo não deve ser o mote para ser seguido, bem pelo contrário”,
alertou.A mesma opinião tem o
diretor-geral da Sociedade Voz do Operário, Vítor Agostinho, que
adiantou que se coaduna com a posição hoje revelada pela Câmara
Municipal de Lisboa, de não permitir a realização de arraiais. “Compagina-se
com a não realização de arraiais […], essa é a nossa opinião”, disse
dirigente da sociedade de instrução e beneficência. Mesmo
sem arraiais, Vítor Agostinho adiantou que a Voz do Operário irá
realizar, como ocorreu em 2020, jantares organizados através de marcação
nas suas instalações, podendo aceitar cerca de 100 pessoas.“Concordamos
que os arraiais, que normalmente aqui promovemos, não vão acontecer,
então chamamos a isso ‘Retiro do Cantinho de Lisboa’”, observou,
alertando que “as pessoas vão entrar com marcações prévias e, quando o
número do espaço estiver preenchido, não entrará” mais ninguém. Na
manhã de hoje, o presidente Câmara de Lisboa, Fernando Medina (PS),
anunciou que não vai autorizar este ano a realização de arraiais
populares devido à pandemia de covid-19, apelando para que os cidadãos
compreendam a situação e evitem aglomerações. “Infelizmente,
este ano não vamos poder ter arraiais, não vamos poder ter as
comemorações do Santo António com arraiais, dada a situação que
vivemos”, disse o autarca, acrescentando: “É a decisão sensata, é a
decisão avisada nesta fase da pandemia em que são precisos ainda
cuidados, são precisos alertas”.Em
declarações à agência Lusa, Fernando Medina indicou que, tal como no ano
passado, os arraiais “não vão ser licenciadas nem pela Câmara nem por
Juntas de Freguesia e, por isso, a fiscalização cabe às autoridades,
quer à Polícia Municipal, quer à Polícia de Segurança Pública (PSP)”.