Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira assinala um ano com lotação completa

1 de ago. de 2020, 10:43 — AO Online/ Lusa

“O nosso objetivo e o nosso foco agora, até 2023, é o reforço da componente de investigação e desenvolvimento do parque. Temos já alguns laboratórios cedidos à parte empresarial”, adiantou, em declarações à Lusa, o diretor executivo do Terinov, Duarte Pimentel.Construído num antigo hospital militar, onde funcionou durante décadas o campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, o Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira acolheu a primeira empresa em incubação no dia 31 de julho de 2019, depois de um trabalho de oito meses de “preparação do terreno” e de criação de parcerias.No primeiro mês, instalaram-se três empresas. Hoje são 34 (incluindo uma em incubação virtual) e quatro entidades não empresariais científicas.“Estamos a falar de um ecossistema de 38 entidades a esta data. Isto representa sensivelmente 120 postos de trabalho altamente qualificados”, avançou Duarte Pimentel.Os espaços destinados à incubação de empresas estão praticamente todos preenchidos, por isso o parque quer apostar agora na incubação virtual.“Para nós foi uma surpresa bastante agradável. Acho que com as primeiras empresas que acolhemos conseguimos transmitir uma imagem de credibilidade e de profissionalismo muito sério”, frisou o diretor executivo.Dos projetos atualmente no Terinov, 11 estão em pré-incubação ou são de profissionais liberais, 15 estão em incubação e oito em desenvolvimento empresarial.A principal área do parque é a indústria agroalimentar, uma das três áreas da estratégia de especialização inteligente para os Açores (agricultura, mar e turismo) e aquela que faz a ponte com a academia açoriana, já que a Faculdade de Ciências Agrárias está localizada na ilha Terceira.“O Terinov surge como entidade interface, algo que liga o contexto académico ao tecido empresarial. Esta é a nossa principal missão, esta transferência de conhecimento e tecnologia”, salientou Duarte Pimentel.Podem também instalar-se empresas ligadas às indústrias culturais e criativas e às tecnologias de informação e comunicação, áreas identificadas como potenciais aliadas da agroindústria, ainda que não sejam obrigadas a trabalhar com este setor.Uma das principais vantagens da integração no Terinov, segundo diretor executivo, é a partilha de contactos e de conhecimentos entre empresas.“As ‘startups’ muitas vezes não têm no seu portfólio interno a capacidade de dar uma resposta integrada a um determinado projeto ou a uma solicitação de um cliente. Muitas vezes o que acontece aqui no Terinov é que eles batem à porta da frente e essa outra empresa tem a capacidade de dar a componente que lhes falta”, adiantou.O parque integra ainda quatro entidades não empresariais científicas: o Centro de Biotecnologia dos Açores, a Associação para a Ciência e Desenvolvimento dos Açores, o Air Centre (Centro Internacional de Investigação do Atlântico, que envolve vários países) e o programa de monitorização de objetos no espaço Space Surveillance and Tracking (SST), desenvolvido pelo Ministério da Defesa, em colaboração com o Governo Regional dos Açores.Segundo Duarte Pimentel, a escolha dos Açores para a iniciativas como o Air Centre ou o SST e a parceria estabelecida entre o Terinov e a Universidade de Massachusetts, em Lowell, comprovam que o arquipélago começa a assumir “uma posição muito interessante” do ponto de vista científico.“Cada vez mais se fala nos Açores como um laboratório vivo, em particular em tudo o que tem a ver com a agricultura de precisão, com a observação da terra, com a gestão costeira, com a gestão e ordenamento do território, com questões de biotecnologia, com as questões dos riscos geológicos e vulcanologia”, enumerou.João Gonçalves, sócio-gerente da Eyecon, destacou precisamente a integração do Air Centre no parque como uma das principais vantagens do Terinov.“A troca de informação tem sido muito benéfica para nós, principalmente porque, estando nós na área da monitorização e agora também a fazer alguns projetos de monitorização por satélite, temos aqui o Air Centre, que tem sido benéfico para nos ajudar a prosseguir este tipo de sistemas”, apontou.Instalada já há um ano na StartUp Angra, a Eyecon, empresa que desenvolve sistemas de sensorização e monitorização para controlo de processos, foi a primeira a instalar-se no Terinov.Ao longo de um ano, João foi vendo os corredores vazios encherem-se de caras novas e diz que a partilha do espaço e a troca de contactos “traz muito valor às empresas”.“Não se pode deixar de dar importância a esta ligação entre a parte científica e a parte empresarial, porque o que nós notamos é que a parte científica traz muito conhecimento, mas muitas vezes não consegue ter a habilidade de criar ferramentas para pôr estes conhecimentos em prática e nós trazemos essa habilidade”, salientou.João Machado é um dos mais recentes inquilinos do Terinov. Engenheiro eletrotécnico, trabalhou durante 10 anos na área, mas há cerca de um mês decidiu criar o próprio negócio.“Eu já tinha ideia de me lançar por conta própria, com esta situação [covid-19] comecei a pensar muito nessa hipótese. Pensei: se calhar é melhor altura para me lançar, porque se não é agora, nunca vai acontecer”, revelou.Tinha ideia de que integrar uma incubadora de empresas era “algo complicado”, mas apresentou o projeto e “em menos de uma semana” a MJ Engenharia estava em pré-incubação no Terinov.“Têm-me surgido muitas oportunidades, desde que estou aqui, de contactar com outras empresas. Vive-se muito este ambiente de ecossistema. A gente anda aqui pelos corredores, acaba por se cruzar uns com os outros”, realçou.