Parlamento trava "aumentos elevados" das taxas de lota nos Açores
12 de dez. de 2025, 17:59
— Lusa/AO Online
“As lotas têm de servir as pessoas.
Não podem ser usadas contra quem depende delas. A Lotaçor existe para
servir os pescadores e não para se servir dos pescadores”, justificou a
deputada Olivéria Santos, durante a apresentação, em plenário, do
projeto de resolução, no parlamento açoriano, na Horta.A
proposta do Chega surge na sequência de uma denúncia das associações de
produtores de pesca e dos sindicatos, que manifestaram o seu desagrado
perante a alegada intenção da Lotaçor (a empresa pública de lotas dos
Açores), de aumentar as taxas de primeira venda do pescado,
alegadamente, em cerca de 300%.O
secretário regional do Mar e das Pescas, Mário Rui Pinho, explicou que
está em curso uma reestruturação do serviço de lotas na região, que
contempla a atualização do valor das taxas e serviços, que se mantinham
inalterados há vários anos, mas garantiu que essa proposta, contestada
pela fileira da pesca e pela oposição, já foi, entretanto, retirada.“O
Governo decidiu retirar a portaria [que previa a atualização do valor
das taxas de lota], por proposta do setor”, revelou o governante, em
resposta às críticas feitas pela oposição, adiantando que o executivo de
coligação (PSD, CDS-PP e PPM), tem já marcada uma reunião para a
próxima terça-feira, com as associações representativas do setor, para
analisar o assunto.A proposta do Chega
recomenda que o Governo atualize o valor das taxas e serviços da
Lotaçor, mas apenas de acordo com o aumento da inflação, com Mário Tomé,
deputado da bancada do PS, a considerar que o proponente desconhece o
impacto real que estes aumentos poderão, mesmo assim, vir a ter junto da
classe piscatória açoriana.“Sabe dizer-me
qual é o impacto financeiro que isto terá na comercialização, na
indústria e, consequentemente, na produção, que é o pescador? O Chega
conversou com a fileira da pesca sobre esta proposta?”, questionou o
deputado socialista, durante o debate parlamentar.António
Lima, deputado único do Bloco de Esquerda, fez as contas aos impactos
da resolução do Chega e garante que terá como consequência um “enorme
aumento” das taxas”: “Se aplicarmos uma taxa de inflação de 2,4%, daqui a
pouco mais de 10 anos teremos uma taxa de venda em lota que chegará aos
4%. Ou seja, aquilo que o Chega está a propor é um enorme aumento de
impostos”.Paulo Gomes, deputado do PSD,
lembrou, por sua vez, que as alterações previstas pelo Governo para os
serviços da Lotaçor, incluem várias outras matérias, não apenas
relacionadas com a pesca profissional, mas também com a pesca lúdica,
que passaria igualmente a estar sujeita ao pagamento de taxas.“Durante
os 24 anos de governação socialista, nunca foi cobrada uma única taxa à
pesca lúdica e às atividades marítimo-turísticas, que faziam uma
concorrência, digamos que, desleal, em relação à pesca profissional”,
sublinhou o parlamentar social-democrata.Nuno
Barata, deputado único da Iniciativa Liberal, entende que o aumento das
taxas da Lotaçor surge agora, não por razões relacionadas com os
serviços prestados pela empresa, mas como tentativa de estancar o
aumento dos custos com as despesas correntes.“Só
nos últimos dois anos, a despesa corrente na Lotaçor cresceu
dois milhões de euros”, disse, adiantando que, desta forma, “é preciso
aumentar as taxas e é preciso sobrecarregar o setor, para pagar
este aumento da despesa corrente”.Mesmo
assim, o deputado da IL votou a favor da resolução, ao lado do Chega,
aprovando a medida, que contou com a abstenção do PSD, CDS-PP, PPM, PS e
BE, e o voto contra do PAN.A Assembleia
Regional aprovou também um outro projeto de resolução conjunto,
apresentado pelo PS, PSD, CDS-PP e PPM, para que a Comissão de Economia
da Assembleia Regional acompanhe o processo de privatização da Azores
Air Lines.