Parlamento prepara grupo de trabalho sobre abusos sexuais contra crianças
9 de mar. de 2023, 08:44
— Lusa/AO Online
Este
requerimento, ao qual a agência Lusa teve acesso, apenas não é subscrito
pela bancada do Chega e, segundo os sete partidos proponentes, deverá
funcionar no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias.Após ser conhecido o
relatório final “Dar Voz ao Silêncio” da Comissão Independente para o
Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica, os grupos
parlamentares do PS, PSD, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda, PCP e
os deputados únicos do PAN e Livre entendem que “a gravidade dos
testemunhos apresentados e a extensão dos abusos e o sofrimento das
vítimas tornam premente uma reflexão profunda sobre o que deve ser feito
para, na medida do possível, reparar os danos sofridos pelas vítimas e
prevenir a ocorrência desta criminalidade grave no futuro”.“O
referido relatório, pela sua extensão, pela pluralidade das abordagens
adotadas e pela transversalidade das recomendações deixadas (que
convocam alterações legislativas e a necessidade de reforço de políticas
públicas em distintos planos ou subsistemas sociais) merece análise
mais detida, em particular nos aspetos tidos por essenciais no quadro de
uma possível intervenção legislativa a desencadear e/ou tramitar em
sede parlamentar”, defende-se no texto deste requerimento.Nesse
sentido, considera-se que uma reflexão “centrada na ponderação das
necessidades das vítimas e nos seus direitos, beneficiaria da
sistematização dos trabalhos através da constituição de uma estrutura no
âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias”. Para além da audição de
organizações, mencionadas no relatório final da comissão independente,
os subscritores deste documento também advogam que importa “recolher
elementos junto das áreas governativas relevantes, de forma a enriquecer
os trabalhos preparatórios de futuras intervenções legislativas ou de
fiscalização parlamentar”.Este grupo de
trabalho, entre outras missões, deverá realizar audições “que se
afigurem pertinentes” no quadro dos dados tornados públicos através do
relatório da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais
contra Crianças na Igreja Católica, assim como analisar as
“recomendações de alterações legislativas previstas no referido
relatório, designadamente com recurso ao levantamento de direito
comparado e de Direito da União Europeia relevantes”.PS,
PSD, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda, PCP, PAN e Livre defendem
ainda que se “assumam os trabalhos indiciários de especialidade de
eventuais iniciativas legislativas que venham a ser aprovadas na
generalidade sobre a matéria no decurso dos seus trabalhos”.A
comissão de Assuntos Constitucionais aprovou hoje por unanimidade
várias audições propostas por PS, PSD e Chega, entre elas, a audição da
Comissão Independente para o estudo de abusos sexuais de menores na
Igreja, do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José
Ornelas, do cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e da ministra
da Justiça, entre outras entidades.A 23
de fevereiro, em declarações aos jornalistas no parlamento, o presidente
do Chega, André Ventura, anunciou que o partido pretendia propor a
criação de um grupo de trabalho parlamentar “especificamente destinado
aos abusos sexuais de menores e ao acompanhamento desta matéria”.O
objetivo, explicou, seria ter na Assembleia da República um grupo
permanente de “aperfeiçoamento legislativo, institucional, de trabalho”,
de forma a constituir “um edifício jurídico sólido em matéria de
combate ao abuso sexual de menores”.Esta
quinta-feira o parlamento debate uma fixação da ordem do dia, agendada
pelo Chega, que ficou de fora dos subscritores do referido requerimento,
sobre o "combate ao abuso sexual de menores em Portugal", que conta com
projetos de lei e resolução do Chega, Iniciativa Liberal e BE.A
Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais de crianças na
Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação,
para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao
Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram
arquivados.A comissão entregou à
Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores,
alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de
afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir
indemnizações às vítimas.A arquidiocese de Évora e a diocese de Angra, nos Açores, anunciaram a
suspensão cautelar de três sacerdotes, enquanto decorrem investigações
sobre alegados casos de abuso por eles praticados.