Parlamento francês debate projeto de lei que ameaça direitos
Migrações
6 de nov. de 2023, 12:17
— Lusa/AO Online
“As
autoridades francesas estão novamente a tentar apresentar um conjunto
de medidas erradas sobre imigração”, considerou a investigadora sénior
para a Europa da Human Rights Watch, Eva Cossé, citada em comunicado.“Dividir
as famílias e diminuir os direitos dos requerentes de asilo não é a
resposta às preocupações de segurança do país”, sublinhou.O
projeto de lei será debatido no Senado (a câmara alta do parlamento
francês), sendo depois enviado para a Assembleia Nacional (câmara baixa)
em dezembro.O Governo apresentou a medida em fevereiro, mas, em março, adiou o debate devido à falta de apoio no parlamento.Se
for aprovado, o projeto permitirá às autoridades emitir uma ordem para o
migrante deixar o território francês, mesmo que a pessoa se enquadre
numa categoria protegida pela lei existente.As
proteções existentes abrangem situações pessoais e familiares, como
pessoas que chegaram a França antes dos 13 anos, têm residência de longa
duração em França ou são cônjuges ou pais de um cidadão francês.A
lei permitirá que as autoridades desconsiderem essas proteções se o
comportamento do estrangeiro for considerado “uma ameaça grave à ordem
pública”, apesar de o projeto de lei não explicar o que é entendido como
“ameaça grave” e “ordem pública”, sublinha a Human Rights Watch (HRW).O
Defensor dos Direitos Francês (que tem funções semelhantes à
Procuradoria-Geral da República em Portugal) criticou fortemente todo o
projeto de lei, referindo que as alterações planeadas vão “deteriorar a
proteção dos direitos fundamentais dos estrangeiros”.Também
a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) criticou as
disposições, afirmando que o enfraquecimento das proteções relativas à
expulsão de cidadãos estrangeiros – em particular pais de crianças
francesas – poderá entrar em conflito com a Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança, da qual a França faz parte, e que protege a
vida familiar e o princípio da não-separação.Mas
o ministro do Interior francês sinalizou que o Governo pretende
acrescentar ainda outra disposição ao projeto de lei para facilitar a
deportação de cidadãos estrangeiros com suspeitas de ligações a
“ideologia radical”, citando o alegado assassino de um professor numa
escola de França em outubro, que foi indiciado por assassinato
terrorista.O projeto de lei também
reintroduz uma disposição controversa contra o “separatismo”, que tinha
sido censurada pelo Conselho Constitucional, a mais alta autoridade
constitucional de França, com base na imprecisão.A
disposição, que foi alterada na sequência dessa censura, pode agora ser
reinstaurada, permitindo às autoridades retirar ou recusar a renovação
de autorizações de residência a pessoas que não cumpram “os princípios
da República”, uma medida que “parece ter como alvo os muçulmanos que
sejam suspeitos de ‘separatismo’”, refere a HRW.Por
outro lado, adianta ainda a organização de defesa dos direitos humanos,
se for aprovada, a lei irá enfraquecer as salvaguardas processuais para
migrantes e requerentes de asilo, nomeadamente diminuindo o número de
juízes especialistas que apreciam os recursos de asilo, passando de três
para um e reduzindo os prazos.Embora a
proposta proíba a detenção de crianças migrantes menores de 16 anos em
centros de detenção, a HRW alerta que continua a permitir a detenção de
milhares de menores de idade e permite de crianças em territórios
ultramarinos franceses.“Os deputados
franceses têm de refletir sobre as reformas de imigração que a França
realmente necessita, incluindo o fim da detenção de todas as crianças,
proteções eficazes contra expulsões injustas e um tratamento humano para
as pessoas”, defendeu Eva Cossé.