Parlamento Europeu critica cortes no orçamento da UE
UE/Cimeira
23 de jul. de 2020, 15:49
— Lusa/AO Online
O PE reuniu em plenário extraordinário em Bruxelas para uma
primeira avaliação dos resultados da cimeira europeia que terminou na
terça-feira e que aprovou um fundo de recuperação pós-pandemia de 750
mil milhões de euros e um orçamento da UE para 2021-2027 de 1,074
biliões, com cortes em vários dos programas geridos por Bruxelas.
“Não podemos aceitar um Quadro Financeiro Plurianual [o orçamento para
sete anos] na sua atual forma. Falta-lhe ambição e não cumpre as nossas
prioridades”, disse o líder do maior grupo parlamentar, o do Partido
Popular Europeu (PPE, centro-direita), o alemão Manfred Weber.
Weber evocou “demasiados cortes” em diferentes políticas europeias,
sublinhando que os que incidem na investigação e na inovação colocam a
Europa “em desvantagem” e a “perder terreno” face à China na inovação. “Estamos a perder o nosso futuro”, advertiu.
Em resposta à presidente da Comissão Europeia, que no início do debate
admitiu que os cortes são “uma pílula difícil de engolir”, Weber disse
que não estar “preparado para a engolir”, uma vez que o orçamento
aprovado “não responde aos desafios dos próximos anos”.
A líder dos Socialistas e Democratas (S&D), a espanhola Iraxte
García, saudou o acordo para o fundo de recuperação económica, frisando
que a UE “mostra que aprendeu com os erros da crise de 2008”.
A dirigente social-democrata frisou contudo que o grupo que dirige “não
vai aceitar os cortes impostos aos objetivos estratégicos” da UE, “num
momento em que é preciso fortalecê-los”, e reclamou um papel central
para o PE, que “negociará em pé de igualdade com o Conselho a aplicação
do fundo de recuperação e a aprovação do orçamento plurianual”.
García pediu por outro lado “compromissos vinculativos” em relação aos
novos recursos próprios, novas fontes de rendimento para o pagamento da
dívida que a Comissão Europeia vai contrair para financiar o fundo de
recuperação, "que não asfixiem as finanças públicas" e passem pela
"taxação justa das multinacionais". A
vinculação do Estado de Direito ao financiamento europeu também foi
abordada no debate, com a líder dos Socialistas e Democratas (S&D) a
defender que “nem um euro deve ir para governos que violam os direitos
fundamentais” da UE e prometendo "firmeza"do grupo que dirige nesta
matéria. O líder do grupo Renovar a Europa
(RE, liberal), o romeno Dacian Ciolos, também celebrou a “solidariedade
sem precedentes” na base do acordo sobre o fundo de recuperação, mas
frisou que essa marca “histórica” não deve fazer com que o acordo não
seja avaliado face “à ambição da Europa”.
Ciolos também se referiu à questão do Estado de Direito, para recusar
que a UE seja “um multibanco” e pedir “garantias sólidas”, porque a UE
“não pode financiar políticos que virem as costas aos valores
fundamentais” da União. Pelo grupo dos
Verdes, Philippe Lamberts criticou abertamente a postura dos chamados
“países frugais” – Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia – pela imposição
de cortes ao orçamento, mas responsabilizou igualmente a Comissão por
“ter permitido cortes em iniciativas de futuro”.
Lamberts defendeu igualmente a importância de que a UE aumentar os
recursos próprios, novas fontes de rendimento para o pagamento da dívida
que a Comissão Europeia vai contrair para financiar o fundo de
recuperação, pedindo a cobrança de impostos “aos predadores em que se
tornaram as multinacionais”, e não apenas sobre os gigantes tecnológicos
e a poluição. O presidente do grupo da
Esquerda Unitária, Martin Schwirdean, foi quem se mostrou menos
entusiasmado com o acordo dos 27, falando de “deceção” por ver “a UE
perder uma oportunidade de ouro”. No final
do debate, falando em nome da Comissão, o comissário responsável pelo
Orçamento, Johannes Hahn, assegurou compreender as críticas dos
eurodeputados, mas pediu rapidez na negociação. “Tomemos uma decisão o mais rapidamente possível. O tempo é fundamental”, disse.
O PE deve aprovar hoje uma resolução sobre o acordo dos 27, que
constitui um mandato para as negociações com a presidência alemã do
Conselho Europeu. Só depois da ‘rentrée’
política deverá pronunciar-se sobre o orçamento, o chamado Quadro
Financeiro Plurianual, que tem de ser aprovado por maioria da assembleia
europeia para entrar em vigor. O PE não tem contudo prerrogativas comparáveis em relação ao fundo de recuperação pós-pandemia.