Parlamento espanhol aprova reforma da lei do aborto e direito a baixa menstrual
15 de dez. de 2022, 15:49
— Lusa/AO Online
No
caso do aborto, a revisão da lei "da saúde sexual e reprodutiva e da
interrupção voluntária da gravidez" pretende acabar com os obstáculos
que atualmente limitam, na prática, a prática da IVG em hospitais
públicos em Espanha, regulando, entre outras coisas, o exercício da
objeção de consciência dos profissionais de saúde."A
imensa maioria das interrupções voluntárias da gravidez" em Espanha,
78,04%, faziam-se, em 2020, em clínicas e hospitais privados, segundo se
lê no texto introdutório da revisão da lei aprovada.O
mesmo texto acrescenta ser "especialmente preocupante a diferença
territorial", havendo regiões em Espanha em que "nos últimos anos não se
registou nenhuma interrupção voluntária da gravidez" em unidades de
saúde públicas.Para contornar este
obstáculo, a nova lei estabelece que todos os profissionais de saúde
declarem por escrito se são ou não objetores de consciência e que essa
declaração seja válida tanto quando trabalham no serviço nacional de
saúde como em clínicas privadas.A objeção
de consciência tem de ser, assim "pessoal" e "não institucional",
segundo a revisão da lei aprovada, uma iniciativa do Governo
espanhol, que é uma coligação do Partido Socialista (PSOE) com a
plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos.Em
função das declarações de objeção de consciência, os governos regionais
têm depois de garantir que há sempre médicos e enfermeiros disponíveis
nos hospitais públicos para uma mulher conseguir aceder ao procedimento
da IVG na sua área de residência.A nova
legislação acaba também com o período de três dias de reflexão
obrigatórios para as mulheres que pedem a IVG e aumenta o acesso à
designada pílula do dia seguinte, tanto com maior disponibilização
gratuita em determinados serviços de saúde e sociais, como com aumento
da comparticipação. A nova Lei da Saúde
Sexual e Reprodutiva e da Interrupção Voluntária da Gravidez espanhola,
que ainda terá de ser ratificada pelo Senado, institui também uma série
de direitos relacionados com "a saúde menstrual", com medidas
consideradas inéditas na Europa.As
mulheres espanholas passarão a ter direito a baixas médias, totalmente
pagas pela Segurança Social, de até cinco dias por causa de menstruações
"dolorosas e incapacitantes" e serão distribuídos produtos de higiene
menstrual em escolas, centros sociais ou prisões, por exemplo, para
combater "a pobreza menstrual", nas palavras usadas hoje no plenário do
Congresso pela ministra da Igualdade, Irene Montero, uma das dirigentes
do partido Podemos.A legislação pretende
reconhecer a "saúde menstrual como parte do direito à saúde" e "combater
o estigma" que existe em relação à menstruação, sublinhou a ministra.A
direita (Partido Popular – PP e Vox) votou contra a revisão da Lei da
Saúde Sexual e Reprodutiva e da Interrupção Voluntária da Gravidez, por
considerar que é "um retrocesso", como afirmou a deputada do PP,
Maria Teresa Angulo Romero.A deputada
defendeu que a nova legislação faz equivaler a gravidez e a menstruação a
uma doença, permitirá às empresas saber a causa de uma baixa das
trabalhadoras e acabará por aumentar "a marginalização" das mulheres no
local de trabalho e no mercado laboral.