Parlamento espanhol aprova projeto-lei sobre memória das vítimas do franquismo
15 de jul. de 2022, 11:45
— Lusa/AO Online
“A história não
pode ser construída com base no esquecimento e no silêncio dos vencidos”
da Guerra Civil, diz o documento do governo de esquerda de Pedro
Sánchez, cuja votação final está prevista para a reentre política.Este projeto-lei de “memória democrática” foi aprovado com 173 votos a favor, 159 contra e 14 abstenções.“Faz
do nosso país um país melhor e vira de forma definitiva a página do
período mais negro da nossa história”, disse hoje o ministro da
Presidência, Felix Bolaños.Desde a sua
chegada ao poder em 2018, Sanchéz fez da reabilitação das vítimas da
Guerra Civil (1936-1939) e da ditadura instaurada pelo general Francisco
Franco, até sua morte em 1975, uma das suas principais prioridades.Sendo
esta proposta de lei aprovada, a procura por vítimas desaparecidas da
Guerra Civil e da ditadura vai se tornar pela primeira vez uma
“responsabilidade do Estado”.“O Estado
deve exumar os corpos das vítimas da ditadura de Franco (...) Ainda há
114.000 desaparecimentos forçados em Espanha”, ou seja, pessoas cujo
destino foi deliberadamente ocultado, disse terça-feira Sanchéz.Espanha,
segundo o chefe do governo do Partido Socialista Operário Espanhol
(PSOE), é “o país do mundo com mais desaparecidos (…) depois do
Camboja”, na sequência dos abusos do Khmer Vermelho.As
pessoas que desapareceram na Guerra Civil são predominantemente
republicanos, tendo o regime de Franco exumado muitas vítimas do campo
nacionalista de valas comuns, para lhes dar espaço.A
nova lei vai levar à criação de um banco de DNA das vítimas para
facilitar a sua identificação e a elaboração de um mapa de todas as
valas comuns do país.À direita, o Partido
Popular (PP), que continua a acusar a esquerda de querer reavivar as
feridas do passado, prometeu a revogação do texto, caso consiga
regressar ao poder durante as eleições marcadas para o final de 2023.Em
clima tenso, o Vox, de extrema-direita, acusou a lei de querer
“novamente dividir os espanhóis”, enquanto os liberais dos Ciudadanos
denunciaram o uso político pela esquerda de uma lei de “memória
seletiva”.