Parlamento é “alvo fundamental” de grupos de interesse apesar de considerarem Governo mais importante
20 de jun. de 2022, 10:56
— Lusa/AO Online
Coordenado pelo
investigador Marco Lisi, o estudo “Os Grupos de Interesse no Sistema
Político Português”, analisa a ação dos grupos de interesse em Portugal,
a sua visibilidade na comunicação social e papel no processo
legislativo, e é apresentado hoje às 09:00 num evento digital no sítio
da Internet da Fundação Francisco Manuel dos Santos.“Na
ótica dos grupos de interesse, a arena parlamentar é considerada
secundária em comparação com a arena governamental. Contudo, apresenta
vários pontos e modalidades de acesso para os interesses organizados,
constituindo por isso um alvo fundamental da estratégia dos grupos para
influenciar o processo legislativo”, lê-se no resumo do estudo, a que a
agência Lusa teve acesso.Neste
ponto, os grupos de interesse estão alinhados com a perceção dos
cidadãos, que, quando questionados sobre quais são as instituições que
os grupos de interesse mais procuram influenciar, indicam que “o Governo
é claramente percecionado como o ator mais relevante (28%)”.“Duas
razões explicam a importância da arena parlamentar na ação dos grupos
de interesse. A primeira é que a Assembleia da República (AR) desempenha
um papel extremamente relevante na produção legislativa. Apesar de o
Governo ter centralizado um crescente poder na feitura das leis, o
parlamento permanece um ator central no processo legislativo”, avança-se
no estudo. “A
segunda razão é que a Assembleia da República constitui um ponto de
acesso relativamente fácil para os grupos de interesse e apresenta
diversos canais e instrumentos que as organizações podem utilizar para
intervir no processo legislativo”, adianta-se ainda.O
estudo conclui que “o sistema político português oferece múltiplos
pontos de acesso aos grupos de interesse”, mas “evolução do regime
democrático tem evidenciado uma crescente concentração de poder no
executivo, que, por sua vez, tem revelado uma capacidade cada vez maior
de influenciar o processo legislativo”. “No
entanto, uma lição importante a retirar deste estudo é que os grupos de
interesse assumem um papel relevante no reequilíbrio desta assimetria
institucional”, defende-se.Esse
papel resulta do envolvimento e participação no processo legislativo,
“mas também pelo escrutínio que fazem das decisões do Governo,
nomeadamente atuando através dos meios de comunicação social ou
encontrando outros canais institucionais (como o Presidente da
República, os tribunais, etc.) para representar as suas preferências e
reivindicações junto dos governantes”.Contudo,
alerta-se no estudo, “a função de controlo do Governo exercida pelos
grupos de interesse é limitada devido à opacidade das práticas de lóbi
junto dos decisores políticos”. “De
facto, não conhecemos as interações entre os membros do Governo e os
grupos de interesse, embora saibamos que predominam as interações
informais na arena institucional. Isto limita a capacidade de escrutínio
dos principais atores políticos por parte dos grupos e da opinião
pública relativamente ao processo de decisão”, sustenta a investigação.O
estudo sublinha ainda que “acresce a este problema a questão relevante
do conflito de interesses, nomeadamente a existência de uma proporção
considerável de deputados que trabalham simultaneamente em sociedades de
advogados e que podem, no âmbito da sua atividade privada, representar
clientes cujos objetivos são contrários ao interesse público”. “Os
grupos de interesse desempenham um papel de monta no processo
legislativo e acabam por ser um canal de influência de interesses
invisíveis. A falta de mecanismos eficazes que implementem princípios de
pegada legislativa agrava este problema”, aponta o estudo.