Parlamento dos Açores rejeita projeto-piloto de semana de trabalho de 4 dias
10 de abr. de 2025, 09:31
— Lusa/AO Online
“Esta modalidade significa um
ajuste efetivo da carga horária em quatro dias da semana, permitindo
mais tempo de descanso aos trabalhadores, sem que haja quaisquer perdas
de rendimento”, explicou António Lima, deputado bloquista, durante a
apresentação do projeto de resolução (sem força de lei) no parlamento
regional, na Horta.O parlamentar admitiu
que a medida não é consensual, já que apenas os sindicatos se
manifestaram a favor, ao passo que os representantes do patronato estão
contra, mas apelou a que houvesse uma “mudança de mentalidades” no
sentido de permitir que a região autónoma possa avançar neste projeto.A
proposta teve o apoio de Pedro Neves, deputado do PAN, que disse já
aplicar esta medida no seu gabinete e com resultados positivos: “Na
prática, foi verificado que a produtividade aumenta, desde que cada
trabalhador tenha um objetivo a cumprir. É assim que os trabalhadores
são motivados.”Olivéria Santos, deputada
do Chega, entende que a medida teria difícil aplicação no setor privado
nos Açores, caracterizado por micro e pequenas empresas, sublinhando que
a redução da carga horária no setor do turismo seria ainda mais
complicada para os empresários.“Numa
região que quer apostar no turismo, e onde a economia depende fortemente
de setores sazonais, esta medida pode mesmo vir a dificultar a adoção
generalizada da semana de trabalho de quatro dias”, advertiu.Nuno
Barata, da Iniciativa Liberal, lembrou que a proposta do BE é de
aplicação facultativa e não obriga os empresários a reduzir a carga
laboral para os seus trabalhadores: “O argumento de que isto reduz a
produtividade cai por terra, na medida em que este projeto de resolução
não obriga empresa nenhuma a implementar os quatro dias de trabalho”.Os
partidos que apoiam o Governo Regional (PSD, CDS-PP e PPM) entendem que
é necessário realizar um debate mais alargado sobre esta matéria e
estudar os verdadeiros impactos que a redução da carga horária poderá
ter no arquipélago.“Se eventualmente isto
se concretizar na Administração Pública nos Açores, pode ser, sim, de
forma voluntária, mas também é bom recordar que, neste preciso momento,
quem pretende aplicar um horário de trabalho de quatro dias no setor
privado já o faz”, lembrou Sabrina Furtado, deputada do PSD.Para
João Mendonça, do PPM, a eventual alteração da carga horária nos Açores
só faz sentido “se trouxer ganhos reais para os trabalhadores e para as
empresas”, e deve haver “um debate alargado” sobre a matéria.Contudo,
o secretário regional dos Assuntos Parlamentares, Paulo Estêvão,
explicou que o Governo Regional já criou um grupo de trabalho para
avaliar o impacto da eventual aplicação de um projeto-piloto da semana
de trabalho de quatro dias.“Foi
estabelecido contacto com a mesma equipa que trabalhou na experiência do
setor privado em Portugal, os professores Rita Fontinha e Pedro Gomes,
que também vão trabalhar com o Governo Regional neste projeto-piloto”,
adiantou.O executivo espera ter conclusões
até ao final do ano, mas João Vasco Costa, deputado do PS, desconfia
que "nada foi feito ainda" e repetiu, por várias vezes, as mesmas
perguntas: "Quantas vezes é que se reuniu o grupo de trabalho? E já
apresentou algum relatório intercalar sobre este assunto?”.O
secretário dos Assuntos Parlamentares disse apenas que o grupo de
trabalho “já se reuniu várias vezes”, mas não especificou quantas.Pedro
Pinto, deputado do CDS, criticou o BE por apresentar “uma proposta
oportunista”, que pretende apenas recomendar ao Governo Regional que
faça aquilo que o executivo já anunciou estar a fazer.A proposta do BE contou com o apoio de PS, PAN e IL, mas acabou chumbada, com os votos contra de PSD, CDS-PP, PPM e Chega.O
parlamento açoriano também rejeitou, por maioria, o projeto de
resolução do Chega que recomendava ao executivo promover as diligências
necessárias para garantir, no âmbito do programa de opções específicas
para fazer face ao afastamento e à insularidade (POSEI), o apoio
monetário ao produtor individual de banana.A
proposta obteve cinco votos a favor do Chega, votos contra das bancadas
de PS, PSD, CDS-PP, PPM e BE, e abstenções de IL e PAN.