Parlamento dos Açores com críticas à alteração da Lei do Mar
17 de out. de 2023, 15:45
— Lusa
Na
abertura da interpelação ao Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) a
respeito da recente aprovação, na AR, da iniciativa legislativa que
“Altera as Bases da Política de Ordenamento e de Gestão do Espaço
Marítimo Nacional”, o deputado do PPM Paulo Estêvão referiu que a
proposta de lei “enferma de um evidente menosprezo” em relação “ao
respeito devido ao regime autonómico insular na organização e
funcionamento do Estado”.Na abertura do
último plenário do parlamento dos Açores, na Horta, antes do debate do
Plano e Orçamento para 2024 (agendado para novembro), o parlamentar
referiu o “absoluto e recorrente menosprezo do Governo da República e da
maioria absoluta do PS em relação aos pareceres solicitados junto dos
órgãos de governo próprio das regiões autónomas”.A
interpelação está relacionada com a polémica Lei do Mar, recentemente
discutida e votada na generalidade, na AR, com a abstenção dos deputados
do PS eleitos pelos Açores, mesmo depois de o parlamento açoriano ter
emitido um parecer negativo sobre o diploma.O
deputado socialista Vasco Cordeiro esclareceu que esta não é a primeira
lei sobre a matéria, uma vez que ela altera outra que já existe.“Esse
sentido de voto [dos deputados do PS eleitos pelos Açores] foi
articulado comigo e, em segundo lugar, esse sentido de voto é o que é,
porque é absolutamente imprescindível ter uma nova lei sobre o espaço
marítimo”, disse.Lembrou que, depois da
declaração de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional, vigora a
lei de 2014 “que não é má, é péssima paras as regiões autónomas”.“Ter
a lei de 2014 em vigor é o pior que pode acontecer para as regiões
autónomas (…) mesmo sabendo que esta alteração não serve os Açores e não
serve a Madeira”, frisou.Após a
intervenção de Vasco Cordeiro, o deputado do PSD João Bruto da Costa
questionou sobre a indicação dada aos deputados do PS: “Acham que
podemos acreditar mais alguma vez no PS?”.“Não
podemos continuar a ter um PS liderado pelo deputado Vasco Cordeiro,
que nos Açores vem para aqui gritar a favor da autonomia, contra uma lei
extemporânea”, observou.Pedro Neves (PAN) referiu que nesta matéria “foi violado completamente o estatuto político administrativo dos Açores”.“A
autonomia regional está ferida de morte com um partido que tem a
maioria absoluta e vemos um PS/Açores que não tem sequer influência
sobre os seus próprios deputados”, afirmou.A
deputada do CDS-PP Catarina Cabeceiras salientou que a participação dos
Açores no seu mar é um direito e o partido sempre defendeu que “eram
importantes consensos” relativamente a estas matérias.“É inadmissível que Portugal queira limitar o papel dos Açores naquela que é a gestão do seu mar”, disse.José
Pacheco (Chega) apontou que o partido nacional absteve-se porque
considerou que o diploma “estava mal feito” mas, nos Açores, “mesmo com a
legislação mal feita” votaria “contra a legislação e a favor da gestão
partilhada do mar, entre os Açores e a República”. Também lembrou que “nem sempre a República dá a devida importância às autonomias como deveria”.Para
Nuno Barata (IL), o mar “é fundamental não só para o desenvolvimento da
economia das ilhas”, mas “para algumas famílias poderem sobreviver”.“Lisboa
é centralista, Lisboa não gosta das autonomias”, apontou, referindo que
a Lei do Mar não respeita os interesses dos açorianos e as autonomias
constitucionais.António Lima (BE)
considerou a interpelação do PPM importante, mas lembrou que o “ataque à
autonomia não começou em 2023, começou muito atrás, começou em 2014”.Para
o BE, a proposta aprovada na generalidade “é um conceito extremamente
perigoso”, porque pode ser aprovado qualquer projeto à margem das
populações.Por fim, o deputado
independente Carlos Furtado reconheceu que o PS e nomeadamente os
deputados do PS da Madeira e dos Açores “estiveram mal neste diploma” e
“não foram os únicos”.A Lei do Mar [Lei de
Bases do Ordenamento do Espaço Marítimo] foi aprovada na generalidade
na Assembleia da República e vai agora ser discutida na especialidade.