Parlamento dos Açores aprova voto de protesto sobre declarações de secretário da Agricultura
10 de mar. de 2022, 16:43
— Lusa/AO Online
Na sessão
plenária, num momento dedicado ao tratamento de assuntos políticos, os
partidos da coligação de Governo (PSD/CDS-PP/PPM) votaram contra o
protesto do deputado único da Iniciativa Liberal (IL), mas faltou-lhes o
apoio do deputado do Chega e o deputado independente Carlos Furtado não
estava na sala no momento da votação.Com
30 votos a favor e 26 contra, foi aprovado o voto de protesto “pelas
declarações do Secretário Regional da Agricultura, desmerecendo e
descredibilizando o papel dos deputados regionais e o trabalho deste
parlamento relativo à criação do Instituto da Vinha e do Vinho dos
Açores, lamentando que o titular da pasta da Agricultura tenha preferido
fazer tábua rasa das palavras do seu Presidente do Governo quanto à
importância da renovada centralidade desta Assembleia”.A
Assembleia Legislativa dos Açores é composta por 57 deputados e o PSD,
CDS-PP e PPM, que representam 26 deputados, assinaram acordos de
incidência parlamentar com o Chega e o deputado independente, ao passo
que o PSD assinou um acordo com a IL.O parlamento é ainda composto por 25 deputados do PS, dois do BE e um do PAN.O
protesto de Nuno Barata foi apresentado a propósito de declarações
feitas pelo titular da pasta da Agricultura no Governo dos Açores,
António Ventura, após a aprovação, pelo parlamento, do Instituto da
Vinha e do Vinho (IVV) dos Açores.A
proposta, apresentada pelo Governo, foi aprovada por unanimidade pelo
parlamento regional, após introdução de algumas propostas de alteração.No
protesto hoje aprovado, considera-se que as declarações de António
Ventura passam “um atestado de incompetência ao parlamento”.O
documento descreve que o secretário regional indicou, em declarações à
comunicação social: “Se apresentámos uma proposta e a nossa proposta
saiu diferente (no parlamento) , consideramos que a nossa proposta tinha
razão de ser”.De
acordo com a IL, Ventura indicou ainda que, “se a prática o exigir, o
assunto pode regressar à Assembleia Legislativa”, acrescentando que
“todos vamos avaliar se este é o IVV que corresponde às necessidades da
vitivinicultura e da promoção dos vinhos dos Açores”.Para
Nuno Barata, “alegar que a proposta legislativa poderá ser subvertida
em sede da sua regulamentação, querendo dar a entender aos indignados do
setor que o Governo corrigirá as inconformidades supostamente impostas
pelo parlamento, é menorizar o papel desta Assembleia e descredibilizar
as competências dos legisladores eleitos”.Paulo
Estêvão, do PPM, considerou não haver gravidade nas declarações do
governante, disse que o voto da IL se “atira a toda a gente” e criticou
que aquela representação parlamentar se apresente como a “única
impoluta”.O
deputado único do PAN, Pedro Neves, referiu que Ventura considera que,
“por vezes, a democracia não dá jeito”, apenas “porque não gostou que
haja um conselho consultivo” no IVV. “Apesar
de a democracia não dar jeito de vez em quando, esta assembleia tem de
ser plural e temos de ser coerentes quanto ao que diz o Presidente do
Governo relativamente à pluralidade do parlamento. Foi assim que os
açorianos decidiram – por uma pluralidade maior no parlamento”, frisou.José
Pacheco, do Chega, afirmou que “a pluralidade do parlamento não serve
apenas para suportar o governo, também serve para criticar”. “Vou
aprovar este voto porque acho que a democracia é isto. Se queremos que o
parlamento seja central, pois que seja central. Lendo as citações,
também fiquei desconfortável”, frisou.“Da parte do Chega, se é para dizermos ‘Ámen’, então transformemos isto numa igreja, não num parlamento”, acrescentou.Pelo
PSD, João Bruto da Costa observou que o voto de protesto parecia
significar que “fora do parlamento, após uma proposta aprovada por
unanimidade, os membros do Governo têm de ficar de bico calado”.“O que este voto pretende fazer é censura sobre a opinião de membros do governo”, alertou.António Lima, do BE, indicou existirem “motivos para protestar contra as declarações do secretário”.Miguel Costa, deputado do PS, considerou que, nas declarações, António Ventura “diz que parlamento desvirtuou o diploma”. “É
assim que este governo considera esta assembleia. É um Governo que
continua a dizer uma coisa e a fazer o seu contrário. Acredito que
nenhum deputado possa, em consciência, votar contra este voto de
protesto”, disse.Rui
Martins, do CDS-PP observou ser “normal que o secretário esteja seguro
de que a sua proposta seja a solução”, notando que “nada, nas
declarações do secretário, diz que o parlamento subverteu a proposta
inicial”.