A digitalização e divulgação de cerca de um milhão de recibos e pedidos de reembolso acontece cerca de um ano depois de um tribunal britânico ter ordenado a publicação, sob a lei do acesso do público a documentos oficiais.

A informação agora à disposição dos britânicos diz respeito aos quatro anos passados e inclui dados sobre os reembolsos que os deputados pediram para despesas de telecomunicações, viagens, funcionamento de escritório e alojamento.

Todavia, por omitirem as moradas dos deputados, não é possível verificar se mudaram a designação de residência principal e secundária para beneficiar de ajudas de custo na segunda casa.

Por representaram círculos eleitorais, os deputados podem registar uma segunda casa, que pode ser em Londres, onde exercem as funções parlamentares, ou na região que representam fora da capital britânica, para manterem contacto aos seus eleitores.

Foi o jornal Daily Telegraph, que obteve os documentos originais dos 646 deputados, que expôs a prática de mudar a designação da residência, a que a imprensa deu o nome de “flipping”, para obter benefícios financeiros ou fiscais.

Este foi, alegadamente, o caso da secretária de Estado das Finanças, Kitty Ussher, que se demitiu quarta-feira à noite.

O jornal noticiou na edição de hoje que a deputada pelo círculo de Burnley mudou, por sugestão de um contabilista, a designação das casas para ficar isenta dos impostos da venda.

Assim, de acordo com o Telegraph, Ussher mudou durante um mês a designação de residência principal para uma propriedade em Burnley, que de seguida vendeu, poupando cerca de 20 mil euros.

Este “buraco” na lei foi usado por outros deputados e antigos membros do governo, nomeadamente a ministra das Comunidades Locais, Hazel Blears, o ministro dos Transportes, Geoff Hoon, e o ministro das Pensões, James Purnell, que se demitiram ou ficaram de fora após a remodelação governamental de há duas semanas.

Kitty Ussher anunciou também que não se candidatará à reeleição como deputada, juntando-se aos cerca de 12 outros deputados Trabalhistas e Conservadores que tomaram a mesma decisão, na sequência das ilegidades cometidas no âmbito do sistema de reembolso de despesas.

Há seis semanas que o Daily Telegraph demonstrou como deputados reclamaram o pagamento de despesas com comida de cão, jardinagem, móveis ou televisões.

Desde o início do escândalo das despesas dos deputados já foram devolvidos ao Parlamento cerca de 352 mil euros.