Parlamento da Madeira exige que Governo mantenha contingente do ensino superior
17 de jan. de 2023, 13:20
— Lusa/AO Online
"As
autonomias das duas regiões autónomas estão sob ameaça da República”,
declarou o líder parlamentar do CDS-PP, António Lopes da Fonseca, na
apresentação do projeto de resolução sobre esta matéria, no plenário da
Assembleia Legislativa da Madeira, no Funchal. No
dia 06 deste mês, o jornal Público revelou que, no âmbito da revisão do
modelo de acesso ao ensino superior, o Governo pretende reduzir as
vagas destinadas aos alunos dos Açores e da Madeira no ensino superior
do continente.Assim, cada um dos
contingentes especiais para candidatos oriundos das regiões autónomas
passará a ter 2% das vagas reservadas em cada curso, sendo que,
atualmente, 3,5% dos lugares estão guardados para alunos da Madeira e
dos Açores, segundo uma proposta, a que o jornal teve acesso.“Isso
representará que cerca de 800 alunos das escolas secundárias da Madeira
fiquem impedidos de frequentar o ensino superior”, sublinhou o deputado
do CDS-PP.O líder da bancada centrista
argumentou que “esta decisão é uma decorrência do novo modelo acesso ao
ensino superior, que está a ser preparado e que, a ser concretizada,
significará um corte de quase 43% das vagas que, desde a autonomia da
Madeira e Açores, têm sido mantidas por todos os Governos Regionais”.Para
Lopes da Fonseca, “coloca-se em causa um direito constitucional
reconhecido há décadas, da continuidade territorial a estudantes da
Madeira e Açores que não têm acesso a vários cursos”, sendo “obrigados a
frequentá-los fora das respetivas regiões autónomas".A alteração no acesso ao ensino superior, acrescentou, representaria “um retrocesso dos direitos adquiridos ao longo de anos”.O
deputado criticou ainda a “prepotência desta decisão”, apontando que
“até ao presente não foram ouvidos os governos regionais da Madeira e
dos Açores”.Em resposta a questões
colocadas pela agência Lusa sobre se o Governo tem intenção de reduzir o
contingente das vagas reservadas aos alunos das regiões autónomas dos
Açores e da Madeira no ensino superior do continente, o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior respondeu que “a revisão do acesso
ao ensino superior está em curso e envolve um conjunto alargado de
matérias”.“O Ministério tem promovido (e
continuará a promover) um conjunto alargado e numeroso de reuniões para
ouvir os parceiros relevantes, por se tratar de matéria com particular
impacto nos nossos estudantes e instituições”, indicou o gabinete da
ministra Elvira Fortunato, numa resposta escrita enviada à Lusa.O
Ministério do Ensino Superior acrescentou que está ainda a aguardar
contributos de vários parceiros, “por forma a chegar a um modelo de
acesso adequado e justo”.“O PS não aceita
de forma alguma que a senhora ministra se atreva a vir reduzir o
contingente para a Madeira”, declarou o líder parlamentar do PS, o maior
partido da oposição, que ocupa 19 dos 47 lugares no hemiciclo.A
deputada socialista Marina Barbosa complementou que “uma decisão desta
natureza prejudicaria os jovens da região e não pode avançar”,
assegurando que “o PS/Madeira tudo fará para que não se concretize”.“O
JPP é favorável a esta justa reivindicação”, afirmou o deputado Paulo
Alves, sustentando ser “importante que Governo Regional arranje
mecanismos e métodos para cativar os jovens e evitar a saída de pessoal
qualificado, como os enfermeiros”.Para o
deputado único do PCP, Ricardo Lume, “esta intenção de reduzir o
contingente é uma usurpação de um direito autonómico, uma situação
inaceitável, porque existe um governante que anuncia uma medida tão
sensível na comunicação social sem antes ouvir os governos e parlamentos
regionais, nem os estudantes”.“O PCP irá
acompanhar este projeto de resolução”, anunciou, realçando que os
processos “começam numa pontinha": "Agora uma redução e depois acaba-se
com o contingente, agora reduz-se o financiamento para a Universidade da
Madeira e depois atribui-se à região a responsabilidade financeira”
pelo seu funcionamento.