Parlamento açoriano aprova alteração ao regime jurídico dos “Chãos de Melhoras”
9 de jul. de 2024, 17:35
— Lusa/AO Online
Os
"Chãos de Melhoras" foram uma figura urbanística utilizada nos séculos
XIX e XX nos Açores e consistiam na cedência temporária, por parte do
proprietário de terreno, da fruição do uso do solo, mediante o pagamento
de uma contrapartida financeira.As
habitações construídas nesse solo são da propriedade dos fruidores, mas
os terrenos onde se situam não lhes pertencem, criando dificuldades não
só a nível jurídico, como até na manutenção das casas.Para
resolver esses problemas o deputado da Iniciativa Liberal (IL), Nuno
Barata, apresentou a anteproposta de Lei n.º 3/XIII - Primeira alteração
à Lei n.º 72/2019, de 2 de setembro - Regime Jurídico da Regularização
dos “Chãos de Melhoras”.A proposta foi
apresentada no primeiro dia do plenário de julho, o último antes das
férias de verão, da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos
Açores, que decorre na Horta, Faial.A
iniciativa foi aprovada em votação final global com 22 votos a favor do
PSD, quatro do Chega, dois do CDS-PP, um do PPM, um do BE, um da IL e
outro do PAN e com 21 abstenções da bancada do PS.Segundo
o texto da proposta, com a alteração aprovada, “nos casos em que as
Câmaras Municipais não tenham procedido à elaboração dos planos de
pormenor (…) ou, pela exiguidade do número de edificações, não seja
possível a elaboração dos referidos planos de pormenor, deve recorrer-se
aos mecanismos legais de regularização de obras de génese ilegal ou
regularização extraordinária de edificações nos termos previstos no
Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 555/99, de 16 de dezembro”.“Nos casos
das regularizações extraordinárias previstas no número anterior, serão
permitidos novos destaques, não se aplicando a regra do cumprimento dos
10 anos contados entre cada destaque”, acrescenta.De
acordo com Nuno Barata, os “Chãos de Melhoras” representam “uma figura
urbanística bastante utilizada nos séculos XIX e XX nas ilhas do
arquipélago dos Açores”, principalmente em São Miguel, onde “muitas
dessas situações se encontram ainda por regularizar”.Para
o deputado da IL, importa “proceder a uma simplificação e
desburocratização” do processo de regularização urbanística das
edificações, introduzindo alterações na Lei n.º 72/2019.No
decorrer do debate, o deputado Francisco Lima (Chega) disse que o
partido se identifica com a proposta da IL porque significa
“simplificação”.Sabrina Furtado (PSD)
afirmou que o partido concorda “com a proposta”, pois “facilita e faz
com que as câmaras municipais possam, de facto, fazer os destaques
necessários sem um hiato temporal que seja de 10 em 10 anos”. O deputado João Mendonça (PPM) disse que apoiava a anteproposta porque ela “agiliza o processo em causa”.Para
António Lima (BE), a regularização do “Chãos de Melhoras” é um assunto
que “urge avançar” porque “não tem razão de continuar nos dias de hoje”.Por
sua vez, Pedro Pinto (CDS-PP) considerou a proposta “pertinente”: “É
uma situação que se arrasta há cerca de um século, provoca
constrangimentos quer aos proprietários das casas, quer dos terrenos”.Pedro
Neves (PAN) lembrou tratar-se de uma reivindicação antiga que pode “dar
uma pequena ajuda” para resolver a crise habitacional e colmatar uma
injustiça em relação aos proprietários ou a quem efetuou benfeitorias
nos terrenos.Já o socialista Vasco
Cordeiro declarou que a proposta “tem como intenção facilitar a vida aos
cidadãos", mas alertou que pode ter efeitos contrários àqueles que se
pretendem, porque “desaparecem os planos de pormenor” e o assunto é
resolvido por recurso à legislação ou através da regularização de
edificações ilegais. Em qualquer dos
cenários, avisou, a quantidade de trabalho burocrático “é absolutamente
espantosa” e os proprietários terão dificuldades.Na
réplica, a social-democrata Sabrina Furtado criticou Vasco Cordeiro
pela intervenção, alegando que “prefere alarmar as pessoas e “pô-las em
sobressalto”, porque a proposta abre “novos caminhos e alternativas”
para resolver o problema.