Papa visita Marselha para apelar a acolhimento de migrantes no Mediterrâneo
22 de set. de 2023, 11:12
— LUSA/AO online
O apelo surge numa altura em que alguns países
da Europa recorrem cada vez mais a muros nas fronteiras, a
repatriamentos e há suspeitas de bloqueios navais para impedir a entrada
de novo fluxos de refugiados.Francisco
vai presidir à sessão de encerramento de uma reunião de bispos católicos
do Mediterrâneo, mas a sua visita de dois dias tem como objetivo enviar
uma mensagem muito além dos católicos, que abranja toda a Europa e
norte de África.Depois de uma oração na
basílica de Marselha, o Papa ir rezar num monumento dedicado àqueles que
morreram no mar – um número estimado em mais de 28 mil desde 2014,
segundo a Organização Internacional para as Migrações.Francisco,
que tem lamentado, em várias ocasiões, que o Mediterrâneo se tenha
tornado “o maior cemitério do mundo”, confirmou a sua visita há meses,
mas esta acontece precisamente num momento em que a Itália enfrenta mais
uma vez um número crescente de migrantes que partem em frágeis barcos
vindos da Tunísia.Depois de, na semana
passada, terem chegado cerca de 10 mil migrantes em três dias à ilha de
Lampedusa – ultrapassando a população residente de 6.100 pessoas -, a
primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ressuscitou os apelos a um
bloqueio naval e anunciou novos centros para deter aqueles que não se
qualificam para asilo até que possam ser mandados para casa.Por
seu lado, a França reforçou as patrulhas fronteiriças na sua fronteira
sul com a Itália, a poucas horas de carro de Marselha, e aumentou a
vigilância dos Alpes com drones para impedir a passagem dos
recém-chegados.Com as eleições para o
Parlamento Europeu a aproximarem-se (no próximo ano) e a extrema-direita
a desafiar a linha do Governo centrista, os responsáveis do Governo
francês mantiveram-se firmes.“A França não aceitará migrantes de Lampedusa”, disse o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, esta semana.“Não
é acolhendo mais pessoas que vamos conter um fluxo que obviamente afeta
a nossa capacidade de integrá-las” na sociedade francesa, acrescentou.O
arcebispo de Marselha, cardeal Jean-Marc Aveline, que nasceu na Argélia
e se mudou para França quando ainda era criança, defendeu que “medidas
agressivas” não são a resposta, mas admitiu que “discursos ingénuos” e
pacifistas sobre todos viverem juntos e felizes para sempre também não
ajudam.Marselha é uma das cidades mais
multiculturais, multirreligiosas e multiétnicas das margens do
Mediterrâneo, sendo há muito caracterizada por uma forte presença de
migrantes que vivem juntos numa tradição de tolerância.A
agência nacional de estatísticas francesa INSEE indica que havia mais
de 124.000 migrantes numa cidade de 862.000 residentes em 2019, ou seja,
cerca 14,5% da população.Desta fatia,
quase 30.000 eram argelinos e milhares da Turquia, de Marrocos, da
Tunísia e de outras ex-colónias francesas em África.