Papa rejeita "guerras santas" e adverte para um "demónio" no Vaticano
23 de dez. de 2022, 17:18
— Lusa/AO Online
Depois de recordar o caso da
Ucrânia, cuja invasão pela Rússia tem o apoio do clero russo, mas também
conflitos noutras partes do mundo, o Papa Francisco declarou que "em
nome de Deus algum uma guerra pode ser declarada santa".No
salão de bênçãos do Vaticano, o sumo pontífice realizou a
tradicional audiência de Natal com a Cúria Romana, aqueles que fazem
parte do governo da Igreja Católica, e realçou o "grande desejo de paz"
que todos partilham, mais de 300 dias depois da invasão ordenada pelo
Presidente russo ao país-vizinho."Estou a
pensar na Ucrânia martirizada, mas também nos muitos conflitos que estão
a ter lugar em várias partes do mundo. A guerra e a violência são
sempre um fracasso. A religião não deve ser utilizada para alimentar
conflitos", acrescentou."Enquanto sofremos
a devastação da guerra e violência, devemos dar a nossa contribuição
para a paz, tentando remover do nosso coração todas as raízes de ódio e
ressentimento para com os nossos irmãos e irmãs que vivem ao nosso
lado", declarou."Diante do Príncipe da
Paz, que vem ao mundo, deponhamos todas as armas de todo o tipo. Que
ninguém tire partido da sua própria posição ou do seu próprio papel para
mortificar o outro", sublinhou o papa. Francisco
usou a sua saudação anual de Natal à Cúria Romana para voltar a avisar
os cardeais, bispos e padres que trabalham na Santa Sé que não são de
modo algum irrepreensíveis e são até particularmente vulneráveis ao mal.
O papa disse aos presentes que, ao viver
no coração da Igreja Católica, é possível "facilmente cair na tentação"
de pensar "estar a salvo, melhor que outros" e "já não necessitar de
conversão". "No entanto, estamos em maior
perigo do que todos os outros, porque estamos cercados pelo 'demónio
elegante'", que não faz uma entrada barulhenta, mas vem com flores na
mão", disse Francisco aos eclesiásticos no Salão das Bênçãos do Palácio
Apostólico. Francisco usou grande parte do
seu discurso natalício para convidar os burocratas do Vaticano e uma
"exame de consciência" ao estilo jesuíta e ao arrependimento no período
que antecede o Natal.Este ano, marcado por
diversos escândalos de abusos sexuais na igreja, Francisco referiu que
ser católico não significa seguir um conjunto de ditames que nunca muda,
mas é antes um "processo de compreensão da mensagem de Cristo que nunca
termina, mas desafia-nos constantemente".Os
críticos conservadores do papa têm acusado Francisco de heresia por
alguns dos seus gestos e pregações, incluindo deixar católicos
divorciados e casados de novo civilmente acederem aos sacramentos.