Papa lamenta na Turquia que Jesus seja considerado uma mera "figura histórica"
Hoje 12:01
— Lusa/AO Online
Leão
XIV lamentou que Jesus seja visto “com admiração humana, até com
espírito religioso, mas sem o considerar verdadeiramente como o Deus
vivo e verdadeiro presente entre nós”.“Ser
Deus, Senhor da história, fica assim obscurecido e limitamo-nos a
considerá-lo uma figura histórica, um sábio mestre, um profeta que lutou
pela justiça, mas nada mais. Niceia recorda-nos: Cristo Jesus não é uma
figura do passado, é o Filho de Deus presente entre nós, que guia a
história para o futuro que Deus nos prometeu”, enfatizou o Papa. O
Papa alertou para um “regresso do arianismo, presente na cultura atual
e, por vezes, até entre os próprios fiéis”. O arianismo era a posição
defendida por Ário de Alexandria no Concílio de Niceia, que não
considerava Jesus como Deus.Leão XIV chegou à Turquia na quinta-feira para a sua primeira viagem internacional. Após
visitas oficiais e um encontro com o Presidente turco, Recep Tayyip
Erdogan, em Ancara, deslocou-se à cidade nas margens do Bósforo para dar
continuidade à sua agenda.Na
Catedral do Espírito Santo, encontrou-se com o clero que representa a
pequena comunidade católica, aproximadamente 0,04% da população, cerca
de 33 mil pessoas, segundo dados do Vaticano, num local que já foi o
centro do cristianismo e onde, há apenas um século, existiam mais de
dois milhões de fiéis.À entrada da
catedral, dezenas de fiéis católicos, muitos migrantes e uma delegação
do seminário Redemptoris Mater de Dallas, Estados Unidos, que se
encontravam na cidade em peregrinação, chegaram para saudar o Papa.Por
isso, Leão XIV recordou-lhes que "esta lógica da pequenez é a
verdadeira força da Igreja", porque "de facto, essa força não reside nos
seus recursos ou estruturas, nem os frutos da sua missão derivam do
consenso numérico, do poder económico ou da relevância social"."A
Igreja que vive na Turquia é uma pequena comunidade que, no entanto,
permanece fecunda como semente e fermento do Reino. Por isso,
encorajo-vos a cultivar uma atitude espiritual de esperança confiante,
fundada na fé e na união com Deus", acrescentou. A
catedral, inaugurada em 1846, alberga as relíquias de santos, entre os
quais São Pedro e São Lino, os dois primeiros papas. Quatro papas já
visitaram esta basílica: São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e o
Papa Francisco.No pátio, encontra-se uma
estátua do Papa Bento XV, que comemora o seu compromisso durante a
Primeira Guerra Mundial com as vítimas turcas e os cristãos arménios.O
Papa convidou especialmente a pequena comunidade católica na Turquia a
acompanhar os jovens e também a cultivar o diálogo ecuménico e
inter-religioso, a transmissão da fé à população local e o serviço
pastoral aos migrantes e refugiados."A
presença significativa de migrantes e refugiados neste país, de facto,
apresenta à Igreja o desafio de acolher e servir aqueles que estão entre
os mais vulneráveis", afirmou o Papa.O Papa Leão XIV é esperado em Iznik, a antiga Niceia, a sul de
Istambul, para celebrar com as autoridades ortodoxas o 1700.º
aniversário do primeiro concílio ecuménico, que em 325 d.C. reuniu mais
de 300 bispos do Império Romano.Convidado
pelo Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, figura importante e
interlocutor-chave do Vaticano junto da Igreja Ortodoxa, participará
numa celebração ecuménica nas margens do Lago Iznik, sobre as ruínas de
uma antiga basílica submersa.