Papa Francisco considera abusos a menores a vergonha da Igreja católica
27 de set. de 2024, 12:11
— Lusa/AO Online
"Atualmente, temos todos esta
vergonha. É preciso enfrentar e resolver o problema", afirmou Francisco
no primeiro encontro da sua deslocação oficial à Bélgica.A
posição do Papa foi manifestada durante a visita ao
castelo de Laeken, onde se reuniu com o Rei Filipe da Bélgica. "O
meu pensamento vai para os santos inocentes do tempo do rei Herodes,
mas agora é a própria Igreja que cometeu este crime e a Igreja tem de
pedir perdão e resolver esta situação com humildade cristã e fazer tudo
para que não volte a acontecer”, acrescentou, improvisando sobre
um discurso escrito.Francisco acrescentou
que embora "haja quem diga" que os abusos também são cometidos entre
familiares ou no mundo do desporto, "basta um caso na Igreja para provar
a vergonha"."Temos de pedir perdão. Esta é a nossa vergonha e a nossa humilhação”, afirmou.Francisco
disse ainda que a Igreja está a enfrentar "com determinação e firmeza o
flagelo" do abuso de menores, ouvindo e acompanhando aqueles que foram
"feridos e implementando um amplo programa de prevenção em todo o
mundo".O primeiro-ministro belga em
exercício, Alexander De Croo, apelou ao Papa Francisco para que, em
relação aos abusos de menores por parte de membros da Igreja, sejam
dados passos concretos e que as vítimas sejam ouvidas assim como devem
ser reconhecidas "as atrocidades" para que seja feita justiça.O
Papa lamentou também os casos de "adoções forçadas", referindo-se a
casos de roubo recém-nascidos ocorridos na Bélgica depois da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) "(Foi)
infelizmente o resultado de uma mentalidade difundida em todos os
estratos da sociedade. A tal ponto que aqueles que agiam segundo essa
mentalidade pensavam em consciência que estavam a fazer o bem, tanto
para a criança como para a mãe", disse o Papa."Muitas
vezes, as famílias e outras entidades sociais, incluindo a Igreja,
pensavam que, para eliminar o estigma negativo que, infelizmente,
naquele tempo, afetava a mãe solteira, seria melhor para a mãe e para a
criança que esta fosse adotada. Houve mesmo casos em que não foi dada a
algumas mulheres a oportunidade de decidir se queriam ficar com a
criança ou entregá-la para adoção", acrescentou.Segundo
o 'podcast' Kinderen van de Kerk ("Filhos da Igreja") do jornal belga
Het Laatste Nieuws, transmitido em dezembro do ano passado, a Igreja
vendeu cerca de 30 mil crianças sem o conhecimento das mães, entre o
final da Segunda Guerra Mundial até à década de 1980.