Papa Francisco apela no G7 à proibição de "armas autónomas letais"
14 de jun. de 2024, 16:55
— Lusa/AO Online
Dirigindo-se
aos chefes de Estado e de Governo reunidos em Puglia, o líder da igreja
católica defendeu que numa tragédia como um conflito armado é urgente
repensar o desenvolvimento e a utilização de dispositivos como as "armas
letais autónomas", de forma a proibir a sua utilização"."Nenhuma
máquina deveria escolher tirar a vida a um ser humano", argumentou o
Papa, de 87 anos, que tem sido um feroz opositor do comércio de armas.Um
apelo para regulamentar as armas letais autónomas, também conhecidas
como "robôs assassinos", foi lançado em Viena, no final de abril no
encerramento de uma conferência internacional e na qual vários países,
desde os Estados à Rússia, se manifestaram contra um texto vinculativo.Descrevendo
a inteligência artificial como uma ferramenta "extremamente poderosa",
"fascinante e formidável", o religioso recordou, no seu discurso de
vinte minutos, os riscos associados ao seu uso, como o de "conduzir a
uma maior injustiça entre países ricos e países em desenvolvimento,
entre classes sociais dominantes e classes sociais oprimidas"."O
advento da inteligência artificial representa uma verdadeira revolução
cognitiva-industrial que contribuirá para a criação de um novo sistema
social caracterizado por transformações históricas complexas",
sublinhou.A participação de Francisco numa
reunião do G7, a primeira de um Papa, revela o interesse crescente do
Vaticano por esta ferramenta.Os
especialistas estimam que os sistemas de armamento autónomos, regidos
por algoritmos de IA, serão a terceira grande revolução no equipamento
militar, depois da invenção da pólvora e da bomba atómica, segundo a
agência noticiosa AFP.Um apelo para
regulamentar as armas letais autónomas, também conhecidas como "robôs
assassinos", foi lançado no final de abril, em Viena, no encerramento da
conferência internacional sobre o tema. Na iniciativa foi sublinhada a
"urgência" de esforços diplomáticos, enquanto vários países, da Rússia
aos Estados Unidos, se manifestaram contra um texto vinculativo.No
final do ano passado, Francisco convidou a comunidade internacional a
adotar um tratado que regule a sua utilização face aos "graves riscos"
associados às novas tecnologias, como as "campanhas de desinformação" ou
a "interferência nos processos eleitorais", à semelhança do regulamento
adotado pela União Europeia, o primeiro no mundo.Em
2020, tinha sido lançado o Apelo de Roma para a Ética da IA, assinado
pela Microsoft, IBM, ONU, Itália e uma miríade de universidades,
apelando à transparência e ao respeito pela privacidade.A
Itália, país anfitrião do G7, quis fazer da IA um tema central da
cimeira, nomeadamente no que diz respeito ao seu impacto no mercado de
trabalho. Em abril, a primeira-ministra
italiana, Giorgia Meloni, afirmou estar "convencida de que a presença do
Santo Padre contribuirá de forma decisiva para a definição de um quadro
regulamentar, ético e cultural para a inteligência artificial".À
margem da intervenção que fez, Francisco vai reunir-se bilateralmente
com cerca de dez chefes de Estado, incluindo o Presidentes francês,
Emmanuel Macron, o chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, e o
Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.Essa
agenda lotada testemunha o desejo do Papa de continuar a exercer
influência nas relações diplomáticas, quando os numerosos esforços do
Vaticano para a paz na Ucrânia e na Faixa de Gaza não têm produzido
resultados positivos.