Papa Francisco admite corrupção na gestão económica do Vaticano
27 de nov. de 2019, 12:32
— Lusa/AO Online
Numa
conferência de imprensa realizada durante o voo de regresso do périplo
iniciado na Tailândia, Francisco respondeu a
uma pergunta sobre o recente escândalo da compra de um imóvel em
Londres no valor de 150 milhões de euros, negócio pelo qual estão a ser
investigados cinco funcionários de altas instituições da Santa Sé. Antes
de algumas acusações de querer "fazer dinheiro" com o Óbolo de São
Pedro, destinado à recolha de doações para a manutenção da Igreja
Católica e para ajudar no auxílio aos mais necessitados, o papa defendeu
a necessidade de fazer investimentos.Francisco explicou que uma boa administração é procurar um bom investimento "em que o capital não perca valor e seja moral"."Pode-se comprar um imóvel, alugá-lo, vendê-lo. Mas com certeza, para o bem do povo do Óbolo", acrescentou.Reconheceu,
no entanto, que foi "um escândalo" o que se descobriu e que "foram
feitas coisas que não parecem limpas", mas valorizou que a denúncia
tenha sido feita pelo próprio Vaticano.Segundo
o Santo Padre, a reforma da metodologia económica que Bento XVI já
havia iniciado e que se mantém atualmente está a funcionar, pois "foi o
revisor interno das contas que deu conta de que havia algo 'sujo'" e que
"teve a coragem de apresentar uma queixa contra cinco pessoas". "É a primeira vez que no Vaticano descobrimos um escândalo por dentro e não por fora como muitas outras vezes", sublinhou.Francisco
confessou-se "feliz", pois tal "significa que hoje a administração do
Vaticano tem os recursos para esclarecer as coisas feias que se sucedem
lá dentro".O Instituto para as Obras de
Religião (IOR), o banco do Vaticano, "é hoje aceite por todas as bandas e
pode atuar como os bancos italianos, algo que não podia ser feito no
ano passado", acrescentou Francisco. Em
breve, o papa irá nomear o presidente da Autoridade de Informações
Financeiras (AIF), responsável pela revisão das finanças da Santa Sé e
pelo combate ao branqueamento de capitais, que, segundo ele, será "um
magistrado de altíssimo nível financeiro nacional e internacional". No
dia 18 de novembro, o Vaticano anunciou que o suíço René Brülhart
abandonou o cargo de presidente do Conselho de Administração da AIF ao
concluir o seu mandato.A maneira como
Brülhart conduziu aquela instituição foi objeto de controvérsia no
passado, sendo que em maio passado o então porta-voz interino da Santa
Sé, Alessandro Gisotti, precisou de esclarecer que não existia qualquer
procedimento ou investigação judicial contra o então presidente do
Conselho de Administração da AIF.Por sua
vez, o diretor Tommaso Di Ruzza, que era o 'braço-direito' de Brülhart,
está a ser investigado pelo Ministério Público do Vaticano.A
revista italiana L'Espresso adiantou em outubro que Di Ruzza e quatro
outros oficiais da Cúria Romana eram suspeitos de crimes de "desvio de
dinheiro, fraude, abuso de poder e branqueamento de capitais" pela
compra do edifício de Londres.Os interrogatórios em tribunal aos cinco suspeitos irão começar nas próximas semanas, anunciou o papa Francisco.